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mil e quinze

Livros, séries, filmes e muito mais ♥

30
Jan21

Sobre ler (ou não) histórias "problemáticas"

Vera

As aspas do título estão lá apenas pela flexibilidade da palavra; aquilo que eu considero problemático pode não o ser para outra pessoa. Achei por bem vir reflectir um pouco sobre este assunto.

 

Há muitos, muitos anos atrás li o Lolita do Vladimir Nabokov, um dos mais famosos clássicos da literatura e, apesar de neste momento não me lembrar mais de nada do livro (tirando, obviamente, o seu ponto central), lembro-me que gostei bastante dele. Li-o em 2012, portanto eu tinha 18/19 anos, e não vi qualquer problema em lê-lo. Hoje em dia a história é diferente: até gostava de o reler, mas tenho algum receio de o fazer porque tenho uma consciência muito maior do problema que existe no facto de a história ser uma história de pedofilia.

 

No entanto, o que origina este post nem sequer se relaciona com este livro - sendo que já o li, também já não é um problema - e sim com o facto de ter em mim um conflito interno muito grande associado ao facto de querer ler o Call Me By Your Name. Este conflito interno é muito parvo por si só se considerarmos que eu já vi o filme, mas vamos ignorar essa parte. Foi, na verdade, precisamente por ter visto o filme que sinto algum conflito em querer ler o livro. Tenho bastante curiosidade de o fazer, mas uma vez mais, para mim é outra clara história de pedofilia. Cheguei a pesquisar este assunto e vários argumentos são utilizados para contestar: 1) O facto de ser o Elio a iniciar a relação e não o Oliver; 2) O facto de a idade de consentimento em Itália ser de 14 anos, e o Elio já ter 17. Para o segundo não tenho resposta fundamentada, mas serve-me de pouco porque não acho 14 anos uma idade com maturidade suficiente para tal (e isto é apenas uma opinião pessoal). Já para o primeiro tenho a dizer que não me diz nada, porque isso não impede que o Oliver tenha deixado que o relacionamento continuasse.

 

E vocês podem dizer "e qual é o problema? É uma história de ficção!", e têm toda a razão mas, por algum motivo, é algo que me faz sentir um pouco desconfortável. Por isso, queria criar aqui um debate e perguntar-vos qual a vossa opinião sobre este assunto. Se também hesitam um pouco em ler livros com histórias mais problemáticas, se o fazem sem problemas, se se recusam em fazê-lo... Digam-me de vossa justiça!, que eu cá vou continuar com o meu conflito interno.

28
Jan21

FILMES: Finding Dory

Vera

O que é que se passa com esta pessoa que estava sem vontade de ver filmes desde Junho de 2020 e, de repente, já vai no quarto filme do mês de Janeiro? Não faço ideia, mas cá venho eu falar-vos de mais um filme visto este mês: Finding Dory.

 

Ninguém vai querer saber disto, mas vi-o no Domingo de eleições, porque acordei às 7h para ir votar logo às 8h e evitar esperas longas. A estratégia resultou, mas também resultou numa Vera muito cansada e cheia de sono o resto do dia, sem vontade de fazer nada porque tudo exigia esforço, atenção e energia... Menos ver um filme levezinho de animação.

 

 

Um ano após ajudar Marlin (Albert Brooks) a reencontrar seu filho Nemo, Dory (Ellen DeGeneres) tem um insight e lembra de sua amada família. Com saudades, ela decide fazer de tudo para reencontrá-los e na desenfreada busca esbarra com amigos do passado e vai parar nas perigosas mãos de humanos. Fonte: AdoroCinema

 

O enredo deste filme acontece um ano depois do filme À Procura de Nemo, com uma Dory a tentar encontrar os pais com a (des)ajuda da sua memória - com a recuperação de memórias muito antigas mas o já típico desaparecimento das memórias mais recentes.

 

Além de ser um filme muito fofinho - com a fofura sobretudo proporcionada por uma Dory pequenina de olhos grandes -, também é um filme com grandes lições a retirar. Ao longo da sua jornada em busca dos pais, Dory conhece e faz amizades com diversas personagens que vão surgindo; contudo, em diversos momentos da história Dory acaba por se deparar com situações em que tem que se desenvencilhar sozinha, com a agravante do seu problema de memória. É aqui que, na minha opinião, residem os momentos mais fortes e importantes do filme: verdadeiros momentos de auto-suficiência e superação, que nos mostram que, com um pouco de esforço e fé em nós próprios, somos capazes de fazer coisas sozinhos que nunca acreditámos conseguir.

 

As duas palavras-chave, para mim, são mesmo estas: auto-suficiência e superação. Como qualquer filme de animação da Disney/Pixar, é adequado a qualquer idade, garantindo um entretenimento sempre com boas aprendizagens. Recomendo muito ver!

 

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E vocês? Já viram? Digam o que acharam nos comentários!

25
Jan21

SÉRIES: The Undoing

Vera

Depois de ler um livro em volta de "quem é que matou esta pessoa?" escolhi ver uma mini-série em volta de "quem é que matou esta pessoa?". Juro que não fiz de propósito. The Undoing ficou bastante conhecida e foi muito falada, sobretudo quando foi lançada, em Outubro de 2020.

 

Não tenho por hábito ver trailers, gosto de ir o máximo possível "às cegas" e fico-me pela sinopse, e confesso que isso também tem as suas desvantagens quando acontece o que aconteceu com esta série: não me despertou interesse*. O interesse veio quando apanhei spoiler dela, o que é irónico. Uma amiga perguntou-me "lembras-te do nome da série que falámos em que [inserir spoiler]?". Chegámos à conclusão que, na verdade, nunca tínhamos falado da série, mas a verdade é que me despertou interesse depois de saber do que se tratava.

 

 

A série em seis episódios é baseada no livro “You Should Have Known” (2014), de Jean Hanff Korelitz. A trama acompanha Grace Sachs (papel de Nicole Kidman), que está vivendo a vida que sempre quis. Ela é uma terapeuta de sucesso, tem um marido dedicado, Jonathan (personagem de Hugh Grant) e um filho pequeno que frequenta uma escola particular de elite em Nova York. Porém, em uma noite, um abismo se abre em sua vida: uma morte violenta, um marido desaparecido e, no lugar do homem que Grace achava que conhecia, fica apenas uma sucessão de revelações terríveis. Deixada para trás após essa tragédia pública, e horrorizada por não ter considerado seus próprios conselhos, Grace deve desfazer sua vida e criar outra para seu filho e para si mesma. Fonte: tecmundo

 

Depois desta introdução longuíssima e que não interessa a ninguém, o que é que achei da mini-série? Bom, sabendo desde o início a forma como ia terminar, sinto que isso, obviamente, me estragou um pouco a experiência. No entanto, o enredo foi tão bem desenvolvido que até eu, sabendo de tudo, me questionei se o que tinha apanhado era mesmo spoiler ou se era apenas uma pequena parte da série. Isto para dizer que, mesmo sabendo de tudo, passei toda a temporada a duvidar de toda a gente. Eu repito: mesmo sabendo de tudo. Se isto não diz logo o quão bem o enredo está construído, então não sei o que diz.

 

Sendo uma mini-série, neste caso com 6 episódios, vê-se bastante rápido (vi tudo em dois dias e, se tivesse feito binge-watching, provavelmente teria visto numa só tarde). Gostei bastante da forma como se desenrolou o mistério; em determinados momentos lembrou-me Defending Jacob, mesmo sendo uma história diferente. Mas o que tenho de melhor a apontar é a prestação do Hugh Grant no papel de Jonathan Fraser, achei-o incrível e acho que a série não teria sido tão boa sem o trabalho dele. Gostei muito da forma como representou o carisma e instabilidade de Jonathan.

 

Em suma, acho que é uma série que vale bastante a pena para nos deixar a criar mil e uma teorias sobre o que aconteceu, tendo a vantagem de ser uma história curta que se consome rapidamente.

 

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Conhecem esta série? O que acham?

 

* Enquanto procurava sinopses para colocar no post percebi que li uma sinopse - desculpem a linguagem - de merda, inclusivamente com informação enganadora. Se tivesse lido a que coloquei neste post provavelmente ter-me-ia interessado mais 

22
Jan21

LIVROS: One of Us is Lying, Karen M. McManus

Vera

Este livro tem-se tornado cada vez mais conhecido nos últimos tempos e já o tinha na lista de livros para ler há algum tempo.

 

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Simon Kelleher é o criador do Má-Língua, uma nova aplicação que está a encurralar a elite de Bayview High, revelando pormenores da vida privada dos alunos da escola.
Mas o caso torna-se mais grave quando Simon e quatro colegas ficam fechados de castigo numa sala, e ele morre diante das suas vítimas.

Os quatro que se tornam suspeitos imediatos do homicídio, são:
A melhor aluna da escola, Bronwyn que nunca viola uma regra e quer entrar em Yale.
A estrela da equipa de basebol de Bayview, Cooper.
Nate, o criminoso, que está em liberdade condicional por vender droga.
A menina bonita, Addy, que parece ter a vida perfeita ao lado do namorado perfeito.

Que segredos queriam esconder para eliminar Simon?
Quem será o culpado? Fonte: Wook

 

Achei que a história tinha uma premissa interessante, e vi nela um misto de The Breakfast Club e Pretty Little Liars (mas uma versão melhor que esta última, convenhamos). Pode dizer-se que este livro é um young adult de mistério e, como tal, lê-se bastante bem e muito facilmente.

 

De um modo geral, gostei bastante da história. Apesar de cada vez menos me identificar com alguns aspectos mais juvenis deste género literário, a verdade é que sinto que conseguimos (e consegui) encontrar boas histórias apesar destes.

 

Foi um livro com uma boa evolução de personagens, sobretudo no que toca à Addy, que foi onde encontrei um maior crescimento e foi também a personagem que acabou por me agradar mais pelo mesmo motivo. A história em si está muito bem construída e é um daqueles livros que nos vai fazer duvidar de absolutamente toda a gente, não tendo um final previsível. Apesar de o final me ter passado pela cabeça por uns momentos, achei que seria difícil concretizá-lo e não pensei mais nessa hipótese. Efectivamente, achei o desfecho da história um pouco agridoce: consegue surpreender mas, ao mesmo tempo, parece-me um pouco 'far-fetched'. Apesar de tudo isso, creio que é um bom livro para entreter e nos deixar a pensar "mas quem matou o Simon, afinal?", fazendo-nos criar mil e uma teorias sobre o acontecimento enquanto não chegamos à resolução deste.

 

Acho também benéfico ser um young adult, um género literário que considero ser sempre uma lufada de ar fresco - algo leve que se consegue ler sem grandes esforços, mesmo quando as histórias são mais pesadas. Sem dúvida que recomendo e, para quem tiver curiosidade, deixo duas notas finais: 1) existe uma sequela com uma história diferente passada no mesmo espaço e que envolve, entre outras, uma das personagens secundárias de One of Us is Lying - chamada One of Us is Next; eu confesso que estou com algum receio de a ler e de estragar a história e a experiência para mim; 2) segundo sei, esta história vai ser adaptada para uma série de televisão, e sem dúvida que estou muito curiosa por ver o resultado final.

 

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Agora digam-me lá: curiosidade de ler? Já leram? O que acharam?

 

*****

Este ano decidi seguir novamente o desafio de leitura "Uma Dúzia de Livros" da Rita da Nova, sem participar no clube de leitura (sou uma envergonhadinha, desculpem ). Este livro segue o tema do mês de Janeiro: um livro que toda a gente leu menos tu.
[Confesso que não sei se escolhi bem porque ainda não vi ninguém lê-lo nos blogs de leitura que sigo, mas... É bastante conhecido e é ]

20
Jan21

FILMES: Soul

Vera

Não sei o que aconteceu, mas tenho andado com imensa vontade de ver filmes, o que é estranho se considerarmos que desde Junho do ano passado essa vontade não me visitou quase nunca. Desta vez o escolhido foi o Soul.

 

 

Em Soul, duas perguntas se destacam: Você já se perguntou de onde vêm sua paixão, seus sonhos e seus interesses? O que é que faz de você... Você? A Pixar Animation Studios nos leva a uma jornada pelas ruas da cidade de Nova York e aos reinos cósmicos para descobrir respostas às perguntas mais importantes da vida. Dirigido por Pete Docter e produzido por Dana Murray. Fonte: AdoroCinema

 

Polémicas à parte - até porque fiz questão de ver a versão original -, está aqui um filme muito bonito. Primeiro, deixem-me apenas comentar o quão espantosa continua a ser, para mim, a evolução dos filmes de animação - está tudo tão realista que fiquei maravilhada. Os planos a mostrarem a cidade parecem autênticas fotografias. Os pormenores nas peles das personagens, sobretudo a sua textura - está tudo fantástico.

 

O seu significado e a intenção por parte da Disney ao produzi-lo não podem ser ignorados - dar voz, acesso, visibilidade e representatividade às pessoas de raça negra é, a cada dia que passa, cada vez mais importante. Sei que isso foi conseguido quando, há uns dias, vi uma notícia com o Jamie Foxx a falar do quão extasiada ficou a sua filha quando soube que o pai dela ia estar "num filme da Disney!".

 

Este filme é bonito de todas as maneiras: visualmente e na sua história. Ensina-nos (ou relembra-nos) as coisas que realmente importam na vida. Mostra-nos que os nossos sonhos e objectivos são, sim, importantes, mas que muitas vezes, na corrida para os alcançar, esquecemo-nos de tudo o resto que nos envolve e dá sentido à nossa existência. E também mostra que mesmo sem isso, nos esquecemos de viver. Da importância que têm as pequenas coisas e os laços com as pessoas. A meu ver, a premissa central é mesmo esta: por vezes, estamos tão absortos nas nossas coisas, na nossa vida, nos nossos problemas, que nos esquecemos de olhar em volta e admirar a beleza do que nos envolve e as vidas de quem nos rodeia, mostrando que há mais para ver na vida e no mundo do que apenas a nós próprios.

 

Como já seria de se esperar, é um filme para qualquer idade e recomendo muito ver, quanto mais não seja pela experiência cinematográfica em si (não aprofundei a beleza visual do filme porque não sei como o fazer, mas é realmente muito bonito de se assistir).

 

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Já viram ou têm curiosidade de ver?

17
Jan21

FILMES: Misery - O Capítulo Final

Vera

Depois de ler o livro, tinha de ver a adaptação para cinema. É sempre uma coisa que gosto de fazer, e algo que ganhou particular significado depois de ter lido o quinto livro da saga Harry Potter - e se já leram o livro e viram o filme, sabem perfeitamente do que estou a falar. Claro que, por um lado, fazer isto nunca é muito justo para com os filmes e quem os realizou - são uma obra isolada, completamente à parte, mas acabam sempre a ser comparados com aquilo que se consumiu primeiro: o livro.

 

Nesse sentido, esta minha review vai ser muito à base dessa comparação. Sinto que, se não tivesse lido o livro, teria achado o filme melhor do que achei. Não sendo de todo um mau filme, sinto que ficou muito aquém em vários aspectos.

 

 

O famoso escritor Paul Sheldon (James Caan) sofre um acidente de carro e é socorrido pela enfermeira Annie (Kathy Bates), que afirma ser sua fã número um. Ela o leva para sua isolada casa e cuida de sua saúde, mas um dia acaba tendo acesso aos originais do próximo livro do escritor e descobre que sua personagem predileta será morta. Essa revelação faz com que sua personalidade doentia se revele e Sheldon se vê à mercê das loucuras da admiradora. Fonte: AdoroCinema

 

Ora então, por onde começar? Podemos começar pela parte que considerei mais importante no livro e consideraria aqui: a representação da doença mental. Se no livro temos uma Annie Wilkes muito bem construída em termos de representação das suas perturbações mentais, sinto que no filme acontece exactamente o contrário. Assim, o que se vê é uma Annie louca "só porque sim", sendo que, como estudante de Psicologia, nada me tira mais do sério do que isso.

 

O filme tem menos cenas chocantes e, por isso, acaba a não ter tanto impacto. Fez diversas alterações à história e, para mim, não haveria problema nenhum com isso. Acontece que, quando temos duas personagens num livro a defender a verossimilhança e a não-utilização de Deus Ex Machina numa história, fica difícil não levar como um atentado à obra quando um dos sub-enredos no filme utiliza precisamente essa técnica e o torna menos plausível. Se calhar não teria mal nenhum se eu não tivesse lido o livro primeiro, mas achei este aspecto incrivelmente irónico.

 

Estas foram as duas coisas que mais me incomodaram no filme, no entanto não achei a obra em si má. A Kathy Bates esteve maravilhosa como Annie Wilkes (algo que eu já esperava, conheço-a sobretudo das temporadas de American Horror Story e nunca me desiludiu); o enredo, apesar de diferente e com os seus defeitos, foi relativamente bem construído e faz algum sentido. Consegue trazer algum ritmo e sentido a uma história que é bastante difícil de passar para a câmara, sobretudo por ser tão extensa, mas sinto que, efectivamente, ficou aquém em alguns aspectos.

 

Não considero uma má obra e acho que consegue ser bom, tanto em termos técnicos, como para entreter, pelo que recomendo que o vejam. Mas, se puderem, o melhor é mesmo ler o livro antes, que como já seria de se esperar, é melhor que o filme.

 

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Já viram? O que acharam?

14
Jan21

LIVROS: Todos Devemos Ser Feministas, Chimamanda Ngozi Adichie

Vera

Comprei este livro no ano passado, que é um dos mais conhecidos quando se fala do assunto "feminismo" e dos mais recomendados. Na verdade, não lhe devia chamar livro porque é apenas um pequeno ensaio que se debruça sobre este tema.

 

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(...)

O que é que o feminismo significa hoje em dia?
 
Neste ensaio pessoal - adaptado de uma conferência TED - Chimamanda Ngozi Adichie apresenta uma definição única do feminismo no século XXI. A escritora parte da sua experiência pessoal para defender a inclusão e a consciência nesta admirável exploração sobre o que significa ser mulher nos dias de hoje. Um desafio lançado a mulheres e homens, porque todos devemos ser feministas. Fonte: Wook

 

Considero que li este livro na altura errada. Considero que devia ter sido um dos primeiros livros a ler assim que comecei a interessar-me mais por feminismo. Efectivamente, este é um excelente ensaio para se ler quando nos estamos apenas a iniciar no assunto, e deve ser lido tanto por mulheres como por homens.

 

Mas a verdade é que não senti que me dissesse muito de novo, sendo essa precisamente a razão de acreditar que eu devia ter lido isto muito antes na minha vida. Senti, sim, que articula muitos dos meus pensamentos melhor do que eu alguma vez conseguiria. Levanta boas questões e reflexões - sobretudo quando Chimamanda enumera e responde a diversos argumentos habitualmente utilizados para desvalorizar o feminismo como causa - mas, mais do que isso, acho que não posso dizer.

 

Se calhar era eu que tinha expectativas elevadas demais, acabando a não ser correspondidas. Para além disso, o ensaio é tão pequeno - tem umas 40 páginas de letras bem grandes e lê-se em menos de uma hora. Isto pode ser um ponto positivo no que toca à facilidade e rapidez da leitura em si, mas um ponto negativo no aprofundamento do tema, que é um pouco superficial. No entanto, dou o mérito à autora de, em tão poucas páginas, ter conseguido abordar, ainda assim, diversos aspectos dos problemas e questões de género.

 

Gostei muito do livro e acho mesmo uma excelente opção para iniciantes no tema - é sucinto, vai directo ao assunto e, como referi, aborda bastante sobre o tema. Para quem, mesmo não sendo um total expert, já não seja também iniciante, não sei se acrescenta assim tanto - embora defenda que obras destas acrescentem sempre alguma coisa que seja, e nesse sentido vale a pena ler, sempre.

 

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Agora digam-me lá: o que acham deste ensaio? Partilham da minha opinião ou conseguiram ver mais nele do que aquilo que eu vi?

11
Jan21

LIVROS: Misery, Stephen King

Vera

Como assim, só aos 27 anos li o meu primeiro livro do Stephen King? Sim, é verdade; e depois de o ler considero que tenho todas as pessoas erradas na minha vida, por ninguém me ter feito ler nada dele em toda a minha vida.

 

Confesso que, apesar da enorme fama que precede o autor, não estava com grandes expectativas - e não vos sei explicar o porquê. Demorei até um pouco a entrar na história, mas quando isso aconteceu não parei mais.

 

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Paul Sheldon é um famoso escritor de romances cor-de-rosa, tornado célebre pela personagem principal das suas obras, Misery Chastain. Porém, Sheldon entendeu que estava na hora de virar a página e decidiu «matar» Misery.
É então que sofre um terrível acidente de viação e é socorrido por Annie Wilkes, uma ex-enfermeira que o leva para sua casa para o tratar. O que Paul não sabe é que Annie, a sua salvadora, é também a sua maior fã, a mais fanática e obcecada de todas — e está furiosa com a morte de Misery.
Ferido e incapaz de andar, totalmente à mercê de Annie, Paul é obrigado a escrever um novo livro para «ressuscitar» Misery, como uma Xerazade dos tempos modernos nas mãos de uma psicopata tresloucada que há muito deixou de distinguir a realidade da ficção.
Repleto de complexos jogos psicológicos entre refém e captor, Misery é uma obra de suspense e terror no seu estado mais puro. Fonte: Bertrand

 

Normalmente, acabo um livro e sei sempre, ou quase sempre, logo o que dizer sobre ele. Digamos que isso não aconteceu com Misery e, na verdade, ainda continuo assim. Diria que ainda estou a digerir tudo, mas não sei se vou parar de digerir.

 

Não esperava uma história com momentos tão chocantes (definitivamente que eu não aconselho isto a leitores sensíveis), mas adorei! De vez em quando, sabe sempre bem ler um bom thriller que nos deixa agarrados ao livro para saber mais, e agarrados a algo que esteja perto de nós para lidar com as emoções que despoleta em nós (normalmente, ou pelo menos neste, a tender para o lado do nojo, do choque, das náuseas...).

 

Um aspecto que tenho de salientar e que, como estudante de Psicologia, considero extremamente importante: aqui temos uma personagem mentalmente perturbada e bem construída! Nada de falsas e erradas representações, nada de loucuras desvairadas sem fundamento e sem lógica só pela loucura em si - não, temos aqui uma Annie psiquiátrica e psicologicamente doente extremamente verosímil e realista. Obrigada Stephen King, isto quase bastava para me conquistares.

 

Não sei o que vos dizer, de facto continuo sem palavras para um livro tão bom. Personagens bem construídas e representadas, uma diversidade imensa de momentos que nos vão chocar e enojar um bom bocado (e desculpem, mas um autor conseguir isto é tão bom...), uma história bem escrita que nos vai deixar ávidos para saber mais e como acaba - enfim, digamos que finalmente compreendo o porquê de Stephen King ser tão conhecido e aclamado.

 

Estou sem dúvida com vontade de ler mais livros dele e, efectivamente, não sei porque não o fiz mais cedo - ainda por cima tendo em conta que comprei este livro em 2017 e ficou estes anos todos na prateleira a ganhar pó. Leiam! Leiam e não se arrependam.

 

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Já leram? Contem-me nos comentários o que acharam!

08
Jan21

Positividade Tóxica

Vera

Felizmente, há conceitos que vão surgindo com o tempo que vêm dar uma nova luz a comportamentos e atitudes menos correctos sobre os quais nunca pensámos antes, e positividade tóxica é um deles.

 

Há uns dias vi um tweet que dizia algo do género "em 2020 aprendi que trauma só serve para traumatizar, não há lição de vida para tirar" e isto fez-me pensar, em primeiro lugar, porque me identifiquei bastante com ele. Há dois/três anos passei por um trauma muito grande na minha vida que continua a afectar-me, de algumas formas, nos dias de hoje. Houve uma altura em que cheguei a invejar, de certa forma, pessoas que tinham passado por experiências mais ou menos semelhantes à minha e as viam como uma bênção, porque aprenderam algo dali. Cheguei a pensar "o que raio há de errado comigo para passar por algo tão grande e não conseguir retirar coisas boas daí?". E a resposta é: nada. Não há nada de errado comigo.

 

Não querendo de todo retirar mérito a quem consegue tornar um grande mal em algum bem, a verdade é que a pressão que sentimos para isso é ridícula. Parece que temos de nos sentir agradecidos por termos passado por algo horrível, o que não faz sentido nenhum. Continuo até hoje a desejar nunca ter passado por tal coisa, não importa os ensinamentos que me trouxe. Pensar desta forma implica desvalorizar totalmente a experiência da pessoa traumatizada e mandar todo o seu sofrimento às favas para dar lugar a um positivismo que não tem e nem sempre deve existir. Uma coisa má é uma coisa má.

 

Posso ainda ilustrar isto com uma mensagem passada pela Clara Não há umas semanas: a pandemia não foi uma coisa boa. A pandemia pode ter trazido consequências positivas a algumas pessoas, mas isso não a torna numa coisa boa.

 

Temos de parar de achar que tudo na vida tem de ter algo de positivo por trás, e que até as más experiências poderão ser boas. Não, más experiências são só isso mesmo: más experiências. E por mais lições que possam, ou não, dar-nos, não deixam de ser más experiências e, à partida, coisas que desejaríamos nunca ter vivido. Precisamos de parar de diminuir experiências desagradáveis e precisamos de parar de fazer as vítimas sentirem que não podem sofrer, ou que o seu sofrimento não tem valor porque vai necessariamente dar lugar a algo de bom. A vida não funciona assim, e perdoem-me a linguagem, mas às vezes a merda é só mesmo merda.

02
Jan21

FILMES: Bo Burnham: Make Happy

Vera

Não sei bem se deva encaixar isto na categoria de filmes, uma vez que se trata de um espectáculo de stand-up comedy por parte do comediante Bo Burnham, mas à falta de melhor categoria aqui estamos. Já tinha visto este espectáculo há uns anos quando um amigo na altura mo mostrou - de repente, lembrei-me do nada que isto existia e deu-me vontade de o rever, sendo que já não me lembrava de quase nada (e o pouco que lembrava só recordei quando via esses momentos chegarem no espectáculo em si).

 

 

Não tendo de todo o hábito de ver espectáculos de comédia, sinto que este merece de facto um post exclusivo. Conheço pouco do trabalho de Bo Burnham - apenas este espectáculo e outro que o mesmo amigo me mostrou -, mas acho ainda assim que é das melhores obras de arte que já vi na vida, porque sim, este espectáculo é arte e é uma autêntica obra prima.

 

O propósito de Make Happy passa por, como o título diz, fazer as pessoas felizes - aquelas que o estão a ver. E Make Happy não é um típico espectáculo de stand-up: ultrapassa tudo isso para dar lugar a uma performance que junta música, coreografia e, claro, humor. Fá-lo com uma excelência incrível que o torna, como já disse, numa das melhores obras de arte que já vi na vida.

 

O humor de Bo Burnham compõe-se muito do inesperado e repentino, mas também de críticas sociais e assuntos sérios. Não só apresenta um humor inteligente ao satirizar problemas sociais como, mais importante que isso, sabe quando parar e falar das coisas como elas são - sem as tornar leves, sem as trivializar, brincando mas sempre sabendo como lembrar que são importantes e têm peso. E, para mim, é isso que o distingue dos demais comediantes e humoristas e é isso que torna o trabalho dele especial - não posso detalhar-vos a maneira como o faz porque sinto que são coisas que, efectivamente, devem ser vistas e sentidas, sem dar quaisquer spoilers. Mas o génio de Bo Burnham está nos momentos de seriedade e emoção que traz para um espectáculo de humor que é suposto ser leve e apenas engraçado.

 

Um momento que ficou comigo desde a primeira vez que vi o espectáculo e que cheguei até a ir rever ao YouTube foi a parte final do espectáculo - uma forma absolutamente sublime de terminar o espectáculo em grande, onde Bo Burnham se despe de humor e de farsas e se revela ao público como o ser humano que é, como sempre dando um espectáculo e entretendo ao fazê-lo. Este momento, além de me dar arrepios, fez-me deitar algumas lágrimas de emoção. E eu reforço e relembro que sim, acreditem, estou a falar de um espectáculo de comédia!

 

Outra coisa que me impressiona é a forma como os espectáculos dele são planeados e trabalhados ao segundo. Poderão pensar que algo demasiado preparado perde a autenticidade mas, no caso dele, acho que ainda a confere mais - e funciona, não querendo dizer pela terceira vez, mas já dizendo, que esta é uma das melhores obras de arte que já vi na vida.

 

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Façam um favor a vocês mesmos e vão ver isto, tem a duração de apenas uma hora e vai fazer-vos rir e reflectir e rir outra vez. Se já viram, contem lá aqui em baixo o que acharam 👇

 

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