Jane Eyre é um livro clássico escrito por Charlotte Brontë, presente na minha lista de livros para ler desde que conheci, há longos anos, Jane Austen e este tipo de literatura, que rapidamente se tornou numa das minhas favoritas. Eventualmente deixei de ler este tipo de livros - sem culpas, pois todos mudamos e vamos conhecendo novas formas de literatura e novos contornos nas nossas preferências - e Jane Austen deixou de ser a minha autora preferida - ou talvez não, mas tanto tempo sem lê-la... que sei eu agora? Confesso que com esta leitura matei saudades, que não sabia que sentia, por este tipo de livros - romances clássicos escritos por Mulheres muito à frente do seu tempo.
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Considerada uma obra-prima da literatura inglesa, Jane Eyre é um romance da escritora inglesa Charlotte Brontë, publicado no século XIX, mais precisamente em 1847. Jane Eyre é uma autobiografia ficcionada da protagonista que, depois de uma infância e adolescência desprovidas de afecto, se torna preceptora em Thornfield Hall e se apaixona pelo seu proprietário, Mr. Rochester. Plenamente correspondida nos seus sentimentos, Jane julga ter encontrado o amor por que ansiara toda a vida, mas Thornfield Hall esconde um segredo tenebroso que ameaça ensombrar a sua felicidade. Numa atmosfera misteriosa e inesquecível, acompanhamos esta heroína de espírito puro e apaixonado, que trava uma luta interior constante para se manter fiel às suas convicções e a si própria. Uma história sobre a liberdade humana, repleta de elementos dramáticos (incêndios, tempestades, tentativas de homicídio) que compõem uma atmosfera de mistério e suspense. Fonte: Wook
Li este livro para poder decidir se o encomendava a propósito da coleção da RBA ou não - acabei-o com uma resposta negativa. Não quer dizer que não tenha gostado, mas não me deixou com uma sensação tal que sinto que preciso mesmo de o ter. Antes de partir para qualquer divagação que seja sobre a história, partilho convosco dois excertos que se destacaram, para mim, e que sinto que resumem muito bem Jane Eyre, tanto enquanto personagem como enquanto livro e obra literária:
«(...) eu aproveitava a ocasião para subir ao telhado e abraçava com o olhar a esplêndida paisagem até à linha distante das serras; nesses momentos, tomava-me uma ânsia febril de ultrapassar essa linha, de mergulhar na verdadeira vida, habitar as cidades ruidosas e animadas que tanta vez ouvira descrever, mas que nunca vira; desejava adquirir experiência prática, vivendo com os meus semelhantes, estudar carateres diversos, mais variados do que os que me rodeavam.»
«Em vão se afirma que os seres humanos devem contentar-se com uma vida calma. Pelo contrário, precisam de agitação e se não a encontram, inventam-na. Existem milhões de seres condenados a uma sorte mais passiva do que a minha, mas existem milhões também que se revoltam contra o destino. Ninguém pode calcular quantas revoluções, fora da política, fermentam na massa humana que habita a Terra. As mulheres, em geral, são consideradas mais pacíficas que os homens. Puro engano. Elas experimentam exatamente o mesmo do que os homens, sofrem quando apertadas em moldes rígidos, numa estagnação absoluta, tal como eles. (...) É uma insensatez condená-las ou troçar daquelas que procuram fazer mais ou adquirir conhecimentos superiores aos que é hábito conceder ao seu género.»
Para começar, adorei a escrita. Lembrou-me do porquê de eu, em tempos, gostar tanto deste tipo de livros - sempre adorei a forma especial como tantos autores deste e de outros tempos antigos se expressavam. Quem já leu qualquer clássico sabe certamente do que falo. Acho que me fascina sempre as alturas em que estes livros foram escritos e tudo o que isso implica: são sociedades, modos de funcionamento e de ver o mundo que eu desconheço por completo, porque não vivi naquelas épocas. Até o simples facto de ocorrerem em tempos onde não existiam qualquer tipo de tecnologias que hoje nos são tão familiares me fascina. Mas bom, já estou a divagar demais.
O que acho mais incrível ainda é que este livro revolva tanto à volta de uma mulher à frente do seu tempo e da emancipação feminina. Num mundo (ainda mais) dominado por homens, Jane Eyre é uma mulher que deseja a independência e a liberdade, não querendo sentir-se presa a nada nem ninguém e, acima de tudo, mantendo-se sempre fiel a si mesma e aos seus princípios. Num mundo (ainda mais) dominado por homens, Jane Eyre não tem medo de responder, de se afirmar e de se fazer ouvir, de contrariar; não pretende resignar-se ao papel da "mulher recatada e do lar", da mulher casada e governada pelo marido - pretende ser mais, ser melhor e ser dona de si.
Apesar de tudo isso, este livro é um romance, ou pelo menos assim o consideram pois eu não consigo olhar para a história dessa forma. Acho que gostei muito mais da primeira metade da história, dividida entre a infância na casa da tia e o tempo passado no orfanato, do que propriamente do que se segue. Não querendo dar spoilers, acho que há vários elementos do dito "romance" que são um tanto ou quanto problemáticos. Justifica-se a época em que foi escrito? Talvez, mas eu estou em 2022 e não quer dizer que tenha de ser obrigada a assobiar para o lado...
Acho que também não ajudou o facto de ser um livro demasiado extenso. Sinto que algumas partes podiam ter-se prolongado por bem menos espaço de texto e a história continuaria a fazer sentido. Por vezes tornou-se uma leitura mais difícil pela quantidade de texto. Escrita demasiado descritiva - embora tenha de dizer que, não sendo a maior fã desse tipo de escrita, até que não me desagradou por completo neste livro - e falas demasiado longas não facilitam a leitura.
Portanto, sim, é um livro e uma personagem tremendamente inspiradores... A Jane Eyre é uma mulher incrível ainda hoje. Mas há elementos na história maçadores, e há elementos problemáticos... E no fim das contas senti que li um livro desnecessariamente longo sobre uma mulher fictícia que valeu a pena ter conhecido. Mas não deixo de me questionar o que era suposto retirarmos desta obra. A Jane Eyre teve num certo momento do livro a coragem e ousadia de se libertar de algo sem olhar para trás - a partir daí, sinceramente, foi um emaranhado de acasos em que ela simplesmente teve sorte, para no fim voltar ao mesmo ponto anterior e essa coragem e ousadia não terem valido de nada. O caminho que percorreu trouxe-lhe muita coisa que faltava na vida dela, sem dúvida, mas aquilo que a levou a percorrer esse caminho deixou de ter importância repentinamente.
Enfim, divaguei imenso neste post e fui demasiado vaga para quem não conhece a história (precisamente para tentar não dar spoilers). Se recomendo a leitura? Sim, achei a escrita deliciosa, acho uma proeza gigante a Charlotte Brontë ter conseguido fazer-me gostar um bocadinho de escrita descritiva. A Jane Eyre é uma personagem fascinante e inspiradora, e se gostam de romances góticos então mil vezes sim. O único ponto negativo que tenho realmente a apontar, e que já referi, é que de facto o livro torna-se desnecessariamente extenso. Mas como não é suposto estarmos em corridas de leitura, a seu tempo e a seu ritmo, lê-se bem.
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Conhecem este clássico? O que acham?