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mil e quinze

Livros, séries, filmes e muito mais ♥

27
Mai22

LIVROS: In Five Years, Rebecca Serle

Uma história de amizade inesperada

Vera

Depois de ler A Little Life, e de uma pequena pausa involuntária na leitura por coisas da vida, decidi que precisava de uma leitura mais leve e descontraída. Por isso, depois de passar os olhos pela minha lista de livros para ler, acabei por escolher In Five Years.

 

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A nossa protagonista, Dannie, é uma daquelas pessoas que gostam de ter a vida planeada e saber com o que podem contar, e é por isso que, quando numa entrevista de emprego a questionam sobre onde se vê dali a cinco anos, ela sabe exactamente como espera que a sua vida seja: casada com o seu actual namorado David, bem-sucedida na sua carreira e a viver numa casa com que os dois sempre sonharam. Nessa mesma noite, o sono transporta-a para Dezembro de 2025: exactamente cinco anos depois - onde Dannie se vê num apartamento numa zona de Nova Iorque com que nunca sonhou, com um homem desconhecido e um anel de noivado na sua mão bastante diferente do que conhece.

 

Achei que a premissa me prometia uma leitura leve, mas este livro na realidade não é nada do que parece - e digo isto num bom sentido. Aliás, não foi uma leitura tão leve quanto esperava e foi uma história mais triste do que qualquer um espera ao ler a sinopse. Nem sequer considero que tenha sido um romance - não foi, de facto. A sinopse engana um pouco, mas neste caso acho que era necessário fazê-lo para surpreender com um enredo que nos fala muito mais de amizade do que de amor.

 

«I've always been waiting, haven't I? For tragedy to show up once again on my doorstep. Evil that blindsides. And what is [...] if not that?»

 

Ao início estava a achar tudo um pouco cliché e a escrita não me apelou, mas depois começou a ficar mais interessante. Já li que muitas pessoas ficaram surpreendidas pelos plot twists no livro, mas eu acabei por adivinhar um pouco o que poderia estar para acontecer - a minha ideia era ainda mais drástica, mas metade dela foi exactamente o que aconteceu. Confesso que este livro tocou num tema que me é particularmente próximo e com o qual evito ao máximo lidar, e acho que se soubesse que ia incluí-lo, provavelmente não o teria lido.

 

Gostei da história, foi uma história bonita e triste ao mesmo tempo, mas não consigo considerar que seja propriamente uma obra prima. A leitura foi prazerosa, mas as personagens pareceram-me um pouco unidimensionais, sem grande profundidade e construção, e achei que a autora de um modo geral contou mais do que mostrou. Não achei a escrita nada de mais; acho que a melhor forma de descrever este livro é que é um livro com uma história pesada contada com uma escrita leve. Parte de mim sente que, se era para ser levada a isto, podia ter-me feito sentir mais - mas acho que também não há mal em não tê-lo feito.

 

«He is calm and collected, and I hate him, I want to ram him into the wall. I want to scream at him. I need someone to blame, someone to be responsible for all of this. Because who is? Fate? Is the hellscape we've found ourselves in the work of some form of divine intervention? What kind of monster has decided that this is the ending we deserve?»

 

Se é memorável? Acho que não muito. Mas vale a pena a leitura, sendo um livro que se lê bastante rápido. Li em inglês e acho que é daqueles que qualquer pessoa que não domine tanto a língua pode avançar para a leitura, sem grandes medos. É uma história bonita e no final deixa-nos com uma reflexão sobre o quanto podemos nós controlar da nossa vida - spoiler: absolutamente nada -, até mesmo quando sabemos aparentemente aquilo em que ela se vai tornar. Se sou uma Dannie na vida e se vou deixar de acreditar que consigo controlar o que o destino me reserva? Sim à primeira parte, não à segunda... Boas leituras!

 

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Quem conhece esta história? Partilhem as vossas opiniões!

23
Mai22

JOGOS: Stardew Valley

Um jogo descontraído e relaxante que é bem mais do que parece

Vera

Tenho para mim que Stardew Valley é um jogo perfeito para as pessoas que não são de jogos. Para as que só jogam The Sims uma vez por outra, para as que preferem jogos mais descontraídos. Claro que não é só para essas pessoas, mas acho um jogo particularmente bom para esse grupo.

 

É difícil falar sobre Stardew Valley porque o jogo é extremamente complexo e multifacetado. À primeira vista, parece um mero 8-bit de farming, mas na realidade é um jogo carregado de história e dos mais variados elementos de gameplay que se possam pensar. Vamos começar então pelo princípio?

 

Fonte

 

Em Stardew Valley desempenhamos o papel de uma personagem construída à nossa escolha, que acaba de se mudar para Pelican Town porque herdou uma pequena quinta do seu falecido avô. Assim, temos de começar a nossa vida do zero: sem dinheiro, com um pedaço de terreno que não tem absolutamente nada. Pelican Town conta com os locais mais variados, como praia, lagos e rios, minas, hospital, mercearia, bar, casas dos vizinhos... E por falar em vizinhos, podemos ir aumentando a relação que temos com eles, sendo que o jogo até permite que nos casemos com alguns deles e tenhamos filhos se assim quisermos. Mas o vale também conta com inúmeros locais secretos e desconhecidos, aos quais só desbloqueamos o acesso com o nosso progresso no jogo.

 

Algumas das áreas e competências que podemos desenvolver no jogo dizem respeito à quinta, tanto naquilo que semeamos e colhemos, como na possibilidade de termos animais de quinta e podermos recolher e transformar aquilo que eles produzem - com a ajuda de uma série de máquinas que podemos construir com base em receitas e elementos que nos vão sendo dados conforme vamos evoluindo em certos pontos do jogo. Ou seja, além do farming tem uma componente de crafting. Mas também tem uma de pesca, de foraging, combate, mining e para ser sincera nem sei se me estou a esquecer de alguma, de tantas coisas que tem! O jogo é muito bonito visualmente e dá-nos alguns momentos na história ainda mais bonitos - sejam eventos anuais na cidade ou cut scenes de momentos fulcrais no enredo ou com algumas das personagens da cidade. E a banda sonora, que muda conforme a estação do ano, é maravilhosa.

 

Fonte

 

A melhor forma que consigo arranjar para descrever este jogo é contar-vos isto: conheço o jogo há anos, comecei a jogá-lo de forma mais séria há uns meses; tenho visto quase todos os dias o kickthePJ a jogá-lo na Twitch e é nestas streams que todos os dias descubro coisas novas. Quando eu acho que o jogo já "acabou", que não tem mais para mostrar, descubro lá todos os dias sempre algo mais. O jogo parece não ter fim, e digo isto no melhor sentido possível. Consegue sempre surpreender com coisas novas, locais desconhecidos, dinâmicas por descobrir. Tem tanta, tanta coisa. A melhor forma de o descrever é assim: há sempre mais. Achas que já fizeste tudo o que o jogo te mostrou que havia para fazer, que estás quase a terminar aquilo que é o mais principal? Ele atira-te com locais e desafios completamente novos. Completas esses desafios e achas que agora sim, ficou por aqui? Não, há sempre mais! Este jogo é incrível, se eu pudesse dar 5 milhões de estrelas dava. Arrisco-me a dizer que é o melhor jogo de sempre, sem qualquer medo.

 

O melhor é que é um jogo que se pode ir jogando ao ritmo de cada um. Não é preciso entrar numa corrida contra o tempo para fazer tudo. Se há um ponto negativo, eu diria que se pode tornar overwhelming quando começamos a ter ideia da complexidade do jogo e da quantidade infinita de coisas a fazer e a atingir. (E o meu conselho é guiarmo-nos sempre por objectivos mais pequenos e curtos no tempo; as metas continuam lá para as atingirmos mesmo que seja com passos de bebé!). Também acho que há tanta, tanta coisa por descobrir que por vezes pode ser difícil atingir coisas das quais nem temos conhecimento se não soubermos muito sobre o jogo. O jogo vai dando pistas e dicas para imensos elementos, mas há outros que também ficam um pouco escondidos na sombra e dos quais é difícil ter conhecimento se, como eu por exemplo, não estivermos a ver outra pessoa jogar.

 

Eu sou adepta de tentarmos descobrir os jogos por nós próprios o máximo que conseguirmos, mas abro uma excepção pela primeira vez para o Stardew Valley porque acho que aqui o wiki pode ser mesmo o nosso melhor amigo. Embora aconselhe sempre o seu uso moderado, tem de haver um equilíbrio entre a experiência de descobrirmos o jogo por nós próprios e informarmo-nos sobre o que parece não existir informação dentro do jogo. Mas claro, isto vai da preferência de cada um. Um outro streamer que sigo, o Charlie, também começou a jogar Stardew Valley há pouco tempo e prefere não ver as streams do PJ para não ter muitos spoilers do jogo, por exemplo; já eu tenho a experiência de o jogar sem saber nada, e a experiência de o jogar depois de ver o PJ muito mais avançado que eu - e tenho de dizer que há mil e uma coisas que eu não sabia sobre o jogo antes de começar a ver o PJ jogar, e mil dessas eu nunca ia descobrir sozinha... Acho que o jogo é intuitivo q.b., ou talvez seja eu que não tenha encontrado as pistas certas para milhentas coisas. O que é certo é que há uma quantidade infinita de coisas por descobrir - e com elas vêm inúmeros objectivos e novos desafios, fazendo com que haja sempre algo a atingir no jogo, dando-nos sempre algum propósito e motivação para continuar.

 

Community Center: o primeiro 'grande' desafio que o jogo nos lança. Um local abandonado que temos de ajudar a recuperar. Daqui.

 

Gostava de conseguir explicar-vos por palavras tudo o que este jogo é; acho que o próprio trailer não lhe faz 100% de justiça com imagens. Mas aconselho muito a experimentarem este jogo (e a pesquisarem primeiro, se isso ajudar). Não se assustem com a complexidade, tudo se faz. E é no facto de nos dar tantas coisas para alcançar que está a piada. Volto a dizer, sem qualquer receio de fazer uma afirmação exagerada: este é o melhor jogo de sempre. Vão por mim.

 

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Quem conhece este jogo? Deixei alguém com curiosidade de experimentar? Acho mesmo que este é um jogo perfeito para quase toda a gente! Se decidirem não jogar, pelo menos deliciem-se com o soundtrack (perfeito para relaxar e/ou trabalhar).

 

19
Mai22

FILMES: Doctor Strange in the Multiverse of Madness

A busca por uma família em realidades distintas

Vera

Um dos filmes mais aguardados da quarta fase da MCU, a seguir ao Spider-Man: No Way Home, onde Stephen Strange lida com uma inconsequente Wanda (ou devo dizer Scarlet Witch?) enquanto esta faz de tudo para recuperar a sua família. E é desta forma que nos é reforçado o carácter íntegro de Doctor Strange, que faz de tudo para salvar America Chavez, a rapariga-chave para Wanda conseguir aquilo que quer.

 

 

A Marvel esmerou-se neste filme, mandou às favas o conceito de filme family-friendly e trouxe-nos momentos carregados de terror. Já disse por aqui algures que, apesar de não ver muitos, adoro ver filmes de terror, por isso não posso dizer que não tenha gostado destes novos elementos. Para quem já conhece melhor este género, não posso dizer que o filme seja efectivamente um filme de terror. Não é. É um filme com terror pelo meio, se é que isto faz sentido. Não é nada por aí além, mas também não é dos mais fracos que já vi; foi uma boa adição e teve momentos muito bem conseguidos.

 

Doctor Strange in the Multiverse of Madness é um daqueles filmes em que há muita coisa a acontecer ao mesmo tempo - sinceramente, acho que o próprio título já dá pistas para isso -, e pode ser difícil de acompanhar se não prestarmos tanta atenção. Mas penso que é também no facto de nos mostrar tantas personagens e realidades distintas que reside a sua força. Sobretudo se pensarmos na prestação dos actores para esse efeito, já que tiveram de representar várias pessoas diferentes.

 

Se há algo de negativo a apontar, diria que é o facto de o filme ter assentado numa fórmula muito parecida à de WandaVision no que toca à Wanda. No fundo, bem no fundo, não consegui não sentir que em certos momentos estava a ver algo repetido. O enredo em si é diferente, como é claro, mas aquilo que levou a ele não é. É verdade que, agora reflectindo, WandaVision não nos deu nenhuma conclusão no que toca à Wanda depois de tudo o que aconteceu - por isso a culpa foi só minha de ter terminado com a impressão que tudo estava bem. Não sei se "bem" é a melhor palavra, mas pelo menos que a Wanda tinha caído em si. Este filme veio desfazer tudo isso e voltou a acabar da mesma forma, pelo que agora estou com trust issues e com receio que a Wanda volte ao mesmo, mesmo que tudo indique, mais uma vez, que não.

 

O que é certo é que Doctor Strange in the Multiverse of Madness surpreende, terminando com um momento bastante sugestivo do que está para vir (e não nego que fiquei muito curiosa). Se vamos ver mais da Scarlet Witch ou não, ninguém sabe, mas está bastante certo que vamos ver muito mais de Stephen Strange... e de que maneira!

 

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Quem já viu, o que achou?

15
Mai22

JOGOS: Amnesia: The Dark Descent

O terror na sua forma mais básica

Vera

Sinto que preciso de fazer um pequeno disclaimer, ou desabafar um pouco sobre algo (que acho que só eu vejo como problema, mas pronto!). Sinto sempre que as minhas publicações sobre jogos (e também as de obras de Marvel) são das menos vistas, que ninguém liga muito a isso e não quer saber... Não deixei de escrever as da Marvel, mas as minhas reviews de jogos passaram um pouco para segundo plano, e neste momento pretendo voltar a escrever sobre eles. Tenho conseguido criar alguma identidade para mim própria no que respeita a jogos, tenho conseguido descobrir cada vez melhor aquilo que gosto mais, que gosto menos, em que sou melhor ou pior. A verdade é que o meu gosto por jogos faz parte de mim, e no fim do dia também me dá gosto poder partilhar jogos que gostei de jogar e cuja experiência valha a pena - até porque a experiência de jogar um jogo é completamente diferente da de ver um filme ou uma série, por norma é muito mais imersivo. Eu sinto que só me comecei a descobrir neste mundo quando comecei a explorar opções novas e a conhecer melhor o que é que havia por aí. Pode ser que estas publicações também ajudem alguém com isso. Inconscientemente, tornou-se um objectivo meu começar a tentar escrever reviews mais elaboradas e sólidas sobre os media que consumo, pelo menos sempre que possível. E sinto que no que toca a jogos, são dos que há sempre mais a dizer. Portanto é isto... Eu gosto de jogos, então vou escrever sobre jogos. Mesmo que sejam das publicações que mais trabalho me dão. Porque é que me dei ao trabalho de explicar isto tudo? Não sei bem... Mas vamos lá passar à publicação propriamente dita. Fiquem por aí!

 

Apesar de gostar muito de filmes de terror, jogos de terror já são outra história e eu sempre disse que nunca ia jogar nenhum. Isto porque jogos são muito mais imersivos que um filme e a experiência é completamente diferente.

 

Já não sei como adquiri os primeiros dois jogos da trilogia Amnesia - provavelmente numa oferta onde os consegui grátis, já que não ia gastar dinheiro com jogos que provavelmente nunca ia jogar. Conheci os títulos de Amnesia graças ao YouTuber PewDiePie, "back in the day" - ele ficou conhecido com este jogo, e arrisco-me a dizer que o jogo também ficou conhecido com ele. Na altura gostava muito de o seguir e gostei muito de o ver jogar o primeiro jogo desta trilogia - The Dark Descent. Lá está, ver os outros jogar não tem problema, mas jogar eu mesma? Nunca! Isto foi lá para 2011 - onze anos passados, a Vera decide arranjar coragem e jogar Amnesia: The Dark Descent. E é dessa experiência que vos venho falar.

 

 

Se formos falar da complexidade do terror deste jogo, sou a primeira a dizer: é do terror mais básico que há. Não há um terror com grande construção, não é psicológico, não é complexo. É pura e simplesmente um jogo baseado em jumpscares. E sim, é das execuções que mais detesto em filmes - e se um jogo poderia ser melhor que isso? Podia, mas eu acho que é o elemento básico de Amnesia que o faz brilhar em todo o seu esplendor. O jogo pode ser só baseado em jumpscares, mas a construção que existe para os gerar está muito bem conseguida.

 

E digo isto porquê? Porque o jogo brinca com o medo da forma mais simples, mas também da forma mais genuína que há - fazendo para isso uso de elementos tão básicos como o som e o escuro. No início do jogo há uma pequena dica que nos remete para o jogarmos num ambiente escuro e com fones, para que o possamos experienciar da forma mais imersiva possível. Eu não fiz isto - joguei sempre com a luz acesa e sem fones, e mesmo assim passei o tempo todo assustada.

 

Ora então: Amnesia - The Dark Descent é um jogo em primeira pessoa e começa com Daniel, a personagem principal, a acordar num castelo sombrio no meio do nada sem se recordar de absolutamente nada e sem saber como foi ali parar. Ao longo do jogo vamos encontrando pistas para a história em forma de diários e pequenas notas/recordações de como Daniel foi ali parar e o que está ali a fazer.

 

 

A dinâmica do jogo obriga-nos a passar a maior parte do tempo em locais tão escuros, onde não se vê absolutamente nada, com recurso apenas a um número limitado de caixas de fósforos que acendem velas e tochas que possam existir pelo caminho - mas que não ajudam assim tanto -, bem como a uma lanterna a óleo que se gasta rápido demais para a quantidade de escuridão que encontramos. Isto por si só já é excelente para transmitir uma grande sensação de impotência - e obriga-nos a equilibrar bem o uso da lanterna e a gerir quando precisamos realmente dela ou não, fazendo com que passemos grande parte do tempo apenas no escuro. Acrescento apenas que, apesar disto, conseguimos ver minimamente bem o espaço no escuro - não tanto ao longe, mas conforme nos vamos aproximando vamos vendo o espaço em que nos encontramos de forma um pouco mais clara do que quando estávamos a uns passos de lá chegar. Mas esta visibilidade depende muito de outra dinâmica do jogo: a vida e a sanidade da personagem.

 

A vida perde-se quando existe algum tipo de ferimento; já a sanidade perde-se quando a personagem principal assiste a algum tipo de acontecimento sobrenatural - sejam portas a abrir sozinhas, locais em derrocada ou o derradeiro encontro com um monstro. Sim, porque como não poderia faltar a um jogo de terror, o castelo está repleto de monstros estranhos (brutes) que parecem apenas ter fome de carne humana. Confesso que acho os brutes personagens um pouco caricaturizadas quando olho para eles de forma isolada; não os consigo levar a sério. Mas dentro do jogo e tudo o que ele implica, acho que funciona muito bem. The Dark Descent é um survival horror e o objectivo não passa por matarmos os brutes, mas sim por fugirmos deles e escondermo-nos até que desapareçam (pelo menos, no momento).

 

Outro aspecto a apontar sobre o terror neste jogo é que nos dá uma sensação muito bem conseguida de paranóia e perseguição. Eu levei HORAS a encontrar um monstro pelo castelo, o que não quer dizer que não tenha passado essas horas inteiras com medo de finalmente encontrar um. A verdade é que não sabemos o que vamos encontrar ao virar da esquina - alguns encounters com os brutes são fixos no jogo, mas outros são totalmente aleatórios; ou seja, se um brute vos matar num ponto do jogo, ao voltarem à vida naquele ponto já não o apanham outra vez. O que não quer dizer que não o possam apanhar na porta a seguir, ou então não, porque lá está - é aleatório. E acho que o jogo também brinca muito bem com o nosso medo em si; ao fazer-nos passar aquilo que parece demasiado tempo sem encontrar nenhum brute, torna-nos cada vez mais suspeitosos de ainda não termos sido apanhados, e consequentemente com cada vez mais receio de quando iremos ser. Para além disso, há certas sequências do jogo onde somos seguidos por algo... E essas são excelentes a gerar intensidade no jogo e a dar aquela sensação agoniante de "só quero sair daqui".

 

Este jogo funciona à base de puzzles que temos de desvendar para acedermos a novos espaços e/ou a nova informação sobre a história principal. Não nos dá nenhum mapa do local - faz parte do jogo a sensação de andarmos perdidos, às voltas, num local que parece um enorme, gigante labirinto. Mas esta mecânica também tem os seus pontos negativos. É que pode acontecer de por vezes não sabermos o que é para fazer a seguir e andarmos às voltas no mesmo local vezes sem conta sem conseguir avançar. Isto torna-se cansativo e começa a retirar um pouco a experiência de terror que o jogo tem, porque em certo ponto começa a "aborrecer" o jogador. E acho que isso é algo que não deve nunca acontecer num jogo de terror.

 

Choir: dos sítios mais escuros e labirínticos que encontrei. Esta imagem está retocada, não consigo encontrar imagens originais (provavelmente por não se ver mesmo nada de nada!). Daqui.

 

Também achei a história um pouco confusa neste formato de diários e flashbacks, achei que tinha sido talvez mais por distracção minha do que por culpa do jogo, mas quando fui pesquisar mais sobre a história para compreender o que tinha acabado de jogar, percebi que muitas pessoas também a tinham achado um pouco confusa. No entanto, acho que a história em si é um pouco assustadora e revela-nos elementos um pouco chocantes, de tão desumanos. Acrescento também que o jogo tem finais diferentes.

 

Apesar de tudo isto, foi uma experiência que gostei bastante e acho que este jogo vale muito a pena. É um terror básico? Sim, é, mas também é em alguns desses elementos básicos que reside precisamente a sua força. Os jogos Amnesia são dos mais conhecidos dentro deste género e este é considerado um dos melhores jogos de terror. Para além disso, não é um jogo muito longo, pelo que se consegue terminar nuns dias. Quanto a mim, valeu a pena a experiência e vou querer terminar a trilogia - eventualmente, quando voltar a sentir coragem para tal...

 

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Que me dizem deste jogo? Há coragem por esses lados para o jogar? Não posso dizer para irem sem medo, que é um pouco difícil... Mas avancem com medo e com a força toda!

 

11
Mai22

LIVROS: A Little Life, Hanya Yanagihara

Uma vida de sofrimento em 720 páginas, e reflexões sobre a emoção nos homens e sobre psicologia

Vera

Bem... Será difícil conseguir alguma vez descrever adequadamente a experiência de ler este livro. Estou um pouco sem palavras, não por não saber o que dizer, mas por ter tanto para dizer que nem sei como articular tudo isso. Bom, talvez também por não saber o que dizer, já que este é daqueles livros que nos fazem, acima de tudo, sentir - sentir tanto que é impossível passar para palavras o que sentimos. Recostem-se à cadeira ou sofá, que sobre este livro eu tenho muito, tanto a dizer... Esta review vai ser um pouco diferente do costume, porque gostava de reflectir sobre algumas questões pelo meio e não tanto falar apenas da obra em si.

 

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A Little Life é um título bastante adequado à história, já que o livro é, em si, uma pequena vida - em 720 páginas mostra-nos a vida de quatro amigos, centrando-se acima de tudo num deles: Jude, conhecendo-o como o resultado de um passado extremamente traumático. Não me perguntem sobre o que é o livro, não há resposta linear: o livro é sobre tudo, não é sobre nada em específico, é efectivamente uma pequena vida a passar com o tempo e com as páginas. É "só" isso, se não fosse ser muito mais que isso - é um livro tão cru, tão autêntico, tão pesado, tão cheio de dor, tão digno de dar voltas ao estômago. Num comentário que deixei num dos meus updates na leitura deste livro no Goodreads, disse que este livro era um constante "acho que cheguei à pior parte, só pode melhorar a partir daqui..." - sem nunca chegar a melhorar. De alguma forma o livro conseguiu sempre superar aquilo que eu achava que era o pior. Conseguiu piorar o que já era pior, e piorar ainda mais, e piorar mais um pouco. Foi uma história dolorosa. E é bastante gráfico em certas partes, por isso não é um livro que se recomende a toda a gente.

 

But what was happiness but an extravagance, an impossible state to maintain, partly because it was so difficult to articulate? He couldn't remember being a child and being able to define happiness: there was only misery, or fear, and the absence of misery or fear, and the latter state was all he has needed or wanted.

 

O livro está muito bem escrito. Estava com medo por ser tão longo, mas conseguiu cativar-me em quase toda a história; a escrita em si é bastante bonita. Está escrito na terceira pessoa e acho incrível como ainda assim consegue fazer-nos sentir tanto do que as personagens estão a sentir. Mais ainda depois de ter lido uma entrevista de 2015 com a autora que me fez pensar na questão deste livro se centrar num grupo de homens, já que Hanya acha que eles têm um vocabulário emocional mais pequeno que as mulheres, e devo dizer que concordei bastante com o ponto de vista dela. Deixo aqui o excerto do que ela disse sobre esta questão:

 

But I do think that men, almost uniformly, no matter their race or cultural affiliations or religion or sexuality, are equipped with a far more limited emotional toolbox. Not endemically, perhaps — but there’s no society that I know of that encourages men to put words to the sort of feelings — much less encourages their expression of those feelings — that women get to take for granted. Maybe this is changing with younger men, but I sometimes listen to my male friends talk, and can understand that what they’re trying to communicate is fear, or shame, or vulnerability — even as I find it striking that they’re not even able to name those emotions, never mind discuss their specificities; they talk in contours, but not in depth. But in order to name emotions, you have to be taught to name them. (...) In A Little Life, one of the things I most enjoyed exploring is how these men’s friendships, while close by anyone’s definition, are also built upon a mutual desire to not truly know too much. Again, I’m not saying that’s a bad or good thing — one needn’t confess everything to a friend to be known by him — but I do think that a friendship between two women (once again, for better or worse) is yoked by shared confessions.

 

Não tinha pensado tão a fundo neste ponto mas lembro-me de, num momento ou outro a meio da leitura, ter pensado superficialmente no quão bem me estava a ser expressado um sentimento de um ponto de vista de uma personagem masculina (e quão estranho isso era) - sei que pode soar parvo, mas isto que ela descreve eu sinto muito na vida real. E mesmo assim não posso deixar de concordar que simultaneamente me pareceu uma dinâmica muito masculina na perspectiva de que efectivamente estes homens não sabem quase nada sobre a vida uns dos outros. Se pudesse colocava tudo o que ela disse aqui, mas este post já vai suficientemente longo (com tanto ainda por dizer), pelo que deixo o convite para lerem a entrevista na íntegra porque vale a pena.

 

Não vou dizer que o livro é 100% perfeito, achei que se foi tornando um pouco repetitivo e talvez isso tenha surtido um efeito contrário ao que era suposto. Comecei a sentir uma certa dessensibilização: às tantas a história estava a expor-me tanto a situações dolorosas e traumáticas que eu comecei a deixar de sentir tanta empatia pela personagem e pelas suas dores, e comecei a pensar apenas: ok, já percebemos que é mesmo muito mau e que estás a sofrer mesmo muito, e que precisas de fazer mesmo isto vezes sem conta para te sentires melhor. Não me desapareceu a empatia por completo, continuou a ser uma leitura dolorosa e esta dessensibilização meio que ia e vinha; pelo que num momento estava cansada de ler sempre a mesma fórmula de sofrimento, mas no outro já estava encostada a um canto a chorar e a querer deixar este livro no congelador, como o Joey em Friends, porque estava a ser demasiado para aguentar.

 

Outro aspecto positivo é que achei este livro muito bem construído de um ponto de vista psicológico. A pessoa em que Jude se tornou após um passado tão doloroso, tão cheio de trauma, é muito realista, atrevo-me a dizer que é uma das personagens mais bem construídas com base no abuso que viveu. No entanto, achei que houve algum exagero no que toca à vida dele. Se calhar falo de um lugar de imenso privilégio, mas é possível que uma pessoa tenha tanto, tanto azar? Em tudo? Umas coisas seguidas às outras? Sei que sermos criados e educados em determinado ambiente não dá propriamente azo a que existam oportunidades de crescimento em ambientes melhores (apesar de isso até ter acontecido), mas custa-me um pouco acreditar que de sítio para sítio exista sempre um monstro semelhante ao anterior. Da mesma forma, não consegui compreender por vezes a inacção por parte de outras personagens; entendo o quão complicado seja agir e ajudar, mas quando se passa uma vida inteira a ver alguém passar e experienciar pelo mesmo, não é natural que exista eventualmente um ponto de "explosão", um ponto de viragem, um limite da tolerância à frustração? Neste livro pareceu não existir muito disso, o que acho um pouco estranho para pessoas que têm tanto amor e preocupação por alguém.

 

(...) he was worried because to be alive was to worry. Life was scary; it was unknowable. (...) Life would happen to him, and he would have to try to answer it, just like the rest of them. They all (...) sought comfort, something that was theirs alone, something to hold off the terrifying largeness, the impossibility, of the world, of the relentlessness of its minutes, its hours, its days.

 

Agora, infelizmente, tenho de dizer que a minha opinião acerca deste livro decaiu um bocadinho depois de ler a entrevista que referi anteriormente. Uma coisa que me deixou, em certos momentos, frustrada na história foi perceber que uma personagem que precisava tanto de ajuda profissional, nunca a conseguiu. Nunca conseguiu viver dias melhores porque nunca teve a ajuda para isso. E eu achava que esta era uma posição escolhida pela própria personagem - e relevava a minha opinião e compreendia essa escolha, porque nem toda a gente se sente confortável necessariamente para ter o acompanhamento de um psicólogo e/ou psiquiatra, ou nem toda a gente acredita ou espera que isso ajude de facto. E está tudo bem com isso.

 

Mas depois li a entrevista e percebi que esta posição vem da própria autora. E ler algumas das linhas que ela referiu deixou-me um tanto ou quanto confusa e um pouco revoltada com a posição que defende:

 

As for the limits of therapy: I can’t speak to them, only that therapy, like any medical treatment, is finite in its ability to save and correct. I think of psychology the way I think of religion: a school of belief or thought that offers many, many people solace and answers; an invention that defines the way we view our fellow man and how we create social infrastructure; one that has inspired some of our greatest works of art and philosophy. But I don’t believe in it — talk therapy, I should specify — myself. One of the things that makes me most suspicious about the field is its insistence that life is always the answer. Every other medical specialty devoted to the care of the seriously ill recognizes that at some point, the doctor’s job is to help the patient die; that there are points at which death is preferable to life (that doesn’t mean every doctor will help you get there, of course. But almost every doctor of the critically sick understands the patient’s right to refuse treatment, to choose death over life). But psychology, and psychiatry, insists that life is the meaning of life, so to speak; that if one can’t be repaired, one can at least find a way to stay alive, to keep growing older. (...) But I’m not convinced. However: maybe there is in fact a therapist or psychiatrist out there, who thinks that life is, for some people, simply too difficult to keep pursuing; who will give a suicidal patient permission, as it were, to die.

 

Embora concorde que existam casos que possam não ter propriamente nenhuma perspectiva de recuperação - embora também acredite que nesses mesmos casos a terapia pode ter, em si mesma, efeitos paliativos -, equiparar uma ciência validada por estudos rigorosos a uma simples crença e dizer basicamente que psicologia é uma treta já é grave por si só; mas mais grave se tornou a autora proferir as últimas palavras e afirmar que espera que exista algures um terapeuta ou psicólogo que dê permissão a um paciente para se suicidar. Não achem que a minha opinião é enviesada por ser formada na área; tenho falado muito nos últimos tempos com uma amiga do curso sobre certos elementos hipócritas da Psicologia e como muitas vezes tenta empurrar a pessoa numa direcção que nem sempre tem de ser a mais certa, só porque é a mais socialmente aceitável.

 

Mas acho que para argumento basta o facto de Psicologia ser uma ciência, repito, C-I-Ê-N-C-I-A, e não uma doutrina que alguém resolveu inventar simplesmente porque sim. Isto é o mesmo que dizer que a Medicina é um monte de balelas que não resultam com ninguém. Não só não consigo concordar com a visão da autora como acho grave que por detrás de uma história seja isto que ela esteja a tentar passar - que não vale a pena procurar ajuda profissional porque a psicologia é uma crença e não resulta, e se uma pessoa está para lá de remédio e não acredita nisso, então (segundo o que ela diz) mais vale só morrer e pronto. No mínimo, acho que se deve sempre tentar.

 

Apesar de tudo isto, este livro é uma grande obra de arte escrita, foi não um, mas vários socos no estômago e é um livro que vai ficar comigo para sempre. Volto a dizer, não é um livro que se recomende a toda a gente, muitas vezes tive de pousá-lo e parar de ler porque a mágoa estava a tornar-se insuportável. E apesar de achar que a vida da personagem foi um pouco exagerada, não duvido que existam muitas, tantas, demasiadas pessoas como ela pelo mundo... E isso consegue tornar tudo ainda mais sôfrego.

 

Se acharem que aguentam um livro destes, vão com força. A sua leitura vale muito, muito a pena. É um dos livros mais bonitos que já li, da maneira mais triste que já experienciei.

 

(...) all along he had been waiting for some sort of punishment for his arrogance, for thinking he could have what everyone else has, and here--at last--it was. This is what you get, said the voice inside his head. This is what you get for pretending to be someone you know you're not, for thinking you're as good as other people.

 

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Opiniões sobre este livro? E outra coisa: gostam mais deste tipo de publicação, com mais pesquisa e reflexão, ou é melhor limitar-me à minha opinião do que consumi, sem mais? Acho que este post ficou super longo, mas senti que depois de ler a entrevista precisava de falar de outros aspectos que lá foram mencionados.

07
Mai22

SÉRIES: Moon Knight

Um herói assente na mitologia egípcia

Vera

Moon Knight introduz Steven Grant, um pacato homem que trabalha na loja de recordações de um museu da história egípcia. Steven poderia ser um homem comum se não fosse o facto de ter vários blackouts no dia-a-dia que prejudicam a sua vida e dos quais não tem qualquer memória, fazendo com que muitas vezes passe do ponto A ao ponto C sem saber como foi ali parar.

 

 

Claro que estamos a falar de uma série da Marvel e por isso sabemos que Steven não é um homem comum, já que Moon Knight é mais um dos nossos queridos super-heróis. E posso dizer que adorei esta série e que a coloco junto a WandaVision na lista "séries da Marvel mais não-Marvel de sempre", isto é, que nos entregam algo completamente diferente daquilo a que estamos habituados - tanto no MCU, como em séries no geral.

 

Para começar, tanto a história como o super-herói andam muito à volta da mitologia egípcia. Eu tenho um bichinho dentro de mim com este tema, que andava adormecido, mas que prontamente despertou assim que comecei esta série. Adoro, adoro, adoro toda esta coisa dos Deuses egípcios, dos costumes egípcios, de elementos que tão bem conhecemos como sarcófagos, esfinges, pirâmides. Como é que não podia adorar uma série que assenta fundamentalmente em tudo isto?

 

Mas como não é só o tema que faz a série, tudo o resto foi perfeito. Tem um elenco incrível, com a prestação do grande Ethan Hawke no papel de vilão, mas também com uma revelação tremenda de Oscar Isaac no papel principal. Conhecia pouco deste actor - acho que só vi o Inside Llewyn Davis - mas depois disto merecia todos os prémios de melhor actor e mais alguns. Foi absolutamente incrível.

 

O enredo também está muito bem construído, conseguindo ser tão multifacetado sem estragar a história - eu experienciei drama, aventura, terror, comédia, mistério e suspense em tão poucos episódios, aliás, um episódio em concreto entregou-me quase tudo isto em coisa de 40-50 minutos! Conseguiu surpreender, tanto ao entregar bons plot twists como de um modo geral, já que foi por um rumo inesperado. E mais uma vez, isto tudo sem estragar nada da história.

 

A série acaba também por tocar um pouco no tema da saúde mental, o que era precisamente a cereja no topo do bolo que faltava para concluir que esta série foi feita para mim. A história do protagonista, quando revelada, é de partir o coração - mas está também bastante verossímil e realista de um ponto de vista psicológico, o que me agradou muito.

 

O único ponto negativo é o episódio final, que por algum motivo foi mais curto que todos os que o precederam e acabou por atar a história de uma forma muito corrida e apressada. Não entendi muito bem essa opção por parte dos produtores. Acredito que até 10 minutos a mais teriam feito alguma diferença.

 

Em todo o caso, vão sem medo, que esta é uma das melhores séries que já vi, da Marvel e fora dela. Valeu absolutamente todos os minutos passados a vê-la e não me importava que tivesse continuação. Depois de ver o primeiro episódio, a primeira coisa que disse ao meu namorado foi: que lufada de ar fresco! E agora, depois de a terminar, mantenho completamente o que disse.

 

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Quem já viu, o que achou?

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📖 A ler:

📺 A ver:

Succession, Temporada 1
Daredevil, Temporada 3
Mad Men, Temporada 1
Guillermo del Toro's Cabinet of Curiosities, Temporada 1
Suits, Temporada 1 (a rever)
Brooklyn Nine Nine, Temporada 1 (a rever)
The Mandalorian, Temporada 4

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