FILMES: Derren Brown: Sacrifice
Um dia, algures na minha vida, dei de caras com este título na Netflix e guardei-o para ver mais tarde. A premissa era simples: Derren Brown, um mentalista, tenta convencer uma pessoa a levar um tiro por um desconhecido. Uma frase que soa exagerada demais para algo que foi obviamente feito de forma ética. Na verdade, entraram aqui factores que julgo serem bem mais importantes que isto.
Sacrifice é uma espécie de documentário, com apenas cerca de 45/50 minutos, que nos mostra esta experiência que Derren Brown realizou com uma pessoa. Eu separei-me da Psicologia profissionalmente, mas não me separei dela pessoalmente e tudo o que seja relacionado interessa-me. Quanto mais não seja para ser a pessoa céptica que tem dificuldade em acreditar no que está a acontecer, que foi mais ou menos o caso aqui.
Derren Brown pegou em Phil, um homem evidentemente racista (particularmente contra cubanos e mexicanos), e fez uma série de experiências psicológicas para aumentar a sua determinação e diminuir o seu medo no geral (coisas necessárias para levar um tiro por alguém), aumentar a sua empatia e, na verdade, também torná-lo menos racista. Tudo isto para levar a um culminar encenado com uma série de actores em que Phil se veria numa situação difícil com um gangue de motards prontos a matarem um homem mexicano no meio do nada. De salientar que Phil acreditava estar envolvido numa experiência completamente diferente, não tendo conhecimento do que realmente se tratava.
Foi interessante ver algumas das técnicas usadas por Derren Brown, algumas assentes em coisas tão básicas como o condicionamento clássico. O que pareceu mudar mais significativamente a mentalidade racista de Phil foram os resultados de um teste de ADN onde descobriu ter alguma ascendência de outros países que à partida não lhe agradariam tanto. No entanto, não consigo decidir comigo mesma se achei a reacção dele genuína ou não.
Foi um documentário interessante, mas no final acabou por me parecer tudo uma encenação, até as reacções do próprio Phil. Começou a ficar tudo forçado demais e, sinceramente, houve uma técnica utilizada por Derren Brown que me deixou ainda mais céptica. Não acredito por um minuto na naturalidade daquilo que levou Phil a sair determinadamente do carro onde se encontrava para salvar o desconhecido. Só consigo pensar que, se estivesse no lugar dele, na verdade aquilo que Derren Brown fez ia fazer-me começar a desconfiar da situação inteira.
Em todo o caso, é uma experiência interessante de se assistir e acho que teve contornos importantes no que diz respeito a racismo. Embora haja um problema na conclusão final a que Derren Brown chega após esta experiência: que somos todos humanos e devíamos encontrar um meio-termo entre racistas e não-racistas. Não percebo onde é que há um meio-termo para encontrar com pessoas preconceituosas seja lá em relação ao que for. Pessoas racistas não acreditam na dignidade e igualdade de direitos, oportunidades, etc., em relação a outras raças. Não há nada para aceitar aqui com um "passou-bem" e "cada um com as suas opiniões".
Em todo o caso, do ponto de vista psicológico é uma experiência interessante, para quem gostar desses assuntos.
Alguém conhecia este documentário, ou Derren Brown? Fiquei curiosa por ver mais do seu trabalho, mas ao mesmo tempo acho que nunca vou parar de ser céptica.