Livros | O Sanatório, Sarah Pearse
Se eu não sabia nada sobre este livro e o título foi praticamente a única coisa que me cativou desde o início? Talvez. Se acabei a gostar mais do que esperava? Também.
O hotel Le Sommet está situado nos Alpes suíços, num lugar bastante isolado e remoto, e é lá que a detetive Elin Warner se encontra, sem esperar e sem querer: o seu distante irmão Isaac vai casar-se e espera celebrar ali o seu noivado. Outrora um sanatório, o hotel Le Sommet foi construído nunca deixando de ter por base certos elementos da história do edifício. Assim, O Sanatório cria três ingredientes perfeitos para termos um verdadeiro mistério policial em mãos: a ambiência peculiar de um local isolado da civilização; os traumas de uma detetive em baixa médica, a lidar com as suas fragilidades; e o momento em que pessoas começam a desaparecer e a surgir, mais tarde, sem vida...
Policial é um género que não tenho por hábito ler, de todo. Li o And Then There Were None da Agatha Christie, e acho que a minha experiência com policiais se ficou por aí. Talvez por influência de ter visto, pouco antes, Wednesday (não um policial, mas um mistério) e Glass Onion, este foi o livro que me fez descobrir toda uma vontade de explorar este tipo de géneros mais a fundo...
Estava receosa por este livro ser um pouco mais longo do que costumo ler - e normalmente, quando isso acontece, a experiência não costuma correr-me muito bem... Pois bem, felizmente estava enganada! Gostei muito do livro, e mais ainda quando cheguei àquela fase de não conseguir mais largá-lo, à espera de saber tudo o que aconteceu.
«Sabe que as palavras de nada servirão e, pior ainda, que isto é apenas o princípio. A dor... é como uma série de bombas a explodir, uma após outra. A cada hora, uma detonação. Choque após choque após choque.»
Como pessoa que abomina escrita demasiado descritiva, quão lufada de ar fresco é encontrar um livro que é descritivo na medida certa! Sobretudo num livro onde a descrição é, de facto, importante: tanto para transmitir a ambiência do hotel, como para transmitir as sensações que Elin Warner vive. E por falar nisso, achei verossímil q.b. a experiência de stress pós-traumático desta personagem - sobretudo os flashbacks intrusivos, apesar de, ainda assim, não ter sentido tanto como acho que deveria nestes excertos.
O enredo está bem construído o suficiente para nos deixar a tentar decifrar o que está a acontecer em toda a extensão do livro. Penso que fica um pouco aquém nas personagens, no sentido de que, honestamente, é difícil identificarmo-nos, empatizarmos ou conectarmo-nos com qualquer uma delas, ou pelo menos foi isso que senti. Mas não acho que isso faça com que o livro seja necessariamente mau. Contudo, senti que por vezes se tornava irritante em certas partes (pessoalmente, atirava figurativamente o Will de uma varanda abaixo, homem chato e sem sensibilidade nenhuma!).
O desfecho também foi um pouco tonto: a autora atirou um pouco com uns elementos feministas para o desenlace do mistério que, sem quaisquer pistas antecedentes, pareceram sem grande sentido e propósito. Um "estar lá só porque sim". Mas conseguiu, ainda assim, ser minimamente interessante.
Apesar disto, foi uma leitura que me deu imenso prazer e pretendo ler o segundo livro desta série: O Retiro, sendo que este livro termina com o que imagino ser uma espécie de cliffhanger para o segundo. Recomendo que leiam, não será decerto a melhor leitura das vossas vidas, mas garante proporcionar-vos uns bons momentos (excepto no que toca a personagens irritantes).
Quem aqui já leu? O que acham?