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mil e quinze

Livros, séries, filmes e muito mais ♥

31
Dez22

Os melhores momentos de 2022

Vera

E claro, para terminar o ano "em grande", falta o último, mas clássico e importante post: o dos melhores momentos do ano. Estas reflexões pessoais são sempre importantes para mim, pessoa que tende a ser negativa. Ajuda-me a perceber que também coisas boas aconteceram no meio desta salganhada toda que é a vida.

 

2022 nem foi um ano propriamente mau. Talvez a primeira metade tenha sido a pior, muito pelo emprego em que me encontrava e o ambiente que lá vivia. Felizmente, na segunda metade do ano a minha vida sofreu algumas transformações e, apesar de não ser tudo perfeito, a verdade é que as coisas melhoraram bastante.

 

Talvez 2022 seja o primeiro ano que termino a sentir-me verdadeiramente contente. Não feliz, mas contente. Com o modo como as coisas se desenrolaram, como a minha vida se encontra de momento (mesmo com as suas falhas), com as coisas que consigo ver que o futuro ainda me reserva. 2022 foi um ano bom. E acho que não sentia isto há demasiado tempo. Passemos então às coisas boas que este ano me reservou!

 

Idas a Lisboa

Penso que já aqui referi que Lisboa é uma das minhas cidades preferidas, sempre que lá vou sinto que é a minha segunda casa, apesar de nada me prender lá. Este ano consegui ir lá três vezes, e todas com o seu propósito especial. Da primeira vez, passei as primeiras mini-férias de Verão com o meu namorado (e pude apresentar-lhe a cidade que ele não conhecia); da segunda vez pude experienciar pela primeira vez a Feira do Livro, e como bónus ainda consegui conhecer a Rita da Nova e o Guilherme Fonseca. Já a terceira vez foi há duas semanas e foi para celebrar dois anos de namoro.

Gostei de todas elas e espero que em 2023 possa lá voltar de vez em quando para revisitar a cidade que mais me faz feliz.

 

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Mudança de área e novo emprego

Esta é talvez a coisa mais significativa e importante que me aconteceu este ano. Eu, pessoa que cortou laços com Psicologia após a universidade e sonhava em trabalhar em Marketing, consegui efectivamente mudar de área e começar a ganhar conhecimentos e experiência na área que tanto queria.

A minha vida deu uma volta de 180º em todos os aspectos e mais alguns e, apesar de alguns aspectos desta jornada não serem de todo os melhores e os mais ideais, neste momento não me posso queixar totalmente daquilo que estou a experienciar e viver.

Estou muito feliz por ter conseguido um emprego nesta área, e portanto ter conseguido cumprir a mudança profissional, estou feliz por estar a ganhar experiência, e estou feliz porque também recebo mais do que recebia no meu emprego anterior (que ainda por cima era part-time).

Não creio que vá traçar objectivos para 2023 mas a única meta que realmente tenho e espero conseguir é mudar de emprego, não por não gostar de onde estou, mas porque de facto nem tudo nesta situação é um mar de rosas e as condições em que me encontro não são as melhores. Apesar disso, só este primeiro passo que foi dado já significa muito para mim.

 

Poder ver o "Processo" do Diogo Batáguas ao vivo

Eu sei, este parece menor ao pé de todos os outros mas há aqui muita coisa para descortinar. Primeiro, o facto de eu viver na terrinha: de vez em quando temos cá espectáculos de comédia, mas pessoalmente ainda nenhum me tinha atraído e por isso foi com 29 anos que assisti ao meu primeiro espectáculo de comédia de sempre. Segundo, o facto de eu gostar bastante de ver todos os meses o "Relatório" do Batáguas - vídeos que ele faz mensalmente com as notícias mais relevantes desse mesmo mês. Foi aquilo que me fez começar a gostar mais do Batáguas e provavelmente é dos poucos comediantes a quem ligo mais neste momento. E terceiro, o simples facto de ser um espectáculo de comédia e, portanto, ter passado mais de uma hora a rir. Nada me parece ser melhor que isso.

Foi uma experiência agradável e, apesar de não ter o mesmo nível de significância pessoal que outros momentos tiveram, vai ser sempre uma boa memória que ficou de 2022.

 

A atenuação do Covid

Não quero dizer que terminou, porque todos sabemos que não, mas posso dizer que este ano foi a primeira vez que passei o Natal em família desde que o Covid começou. E para mim não há nada melhor que poder voltar a experienciar esta época com alguma liberdade pré-pandemia. Não há nada melhor que não me sentir mais presa às máscaras, ao álcool gel e às preocupações de infecção por cada coisa que antes parecia normal. Acho que esta foi uma das melhores coisas do ano.

Respeito perfeitamente quem ainda sente hesitação e ainda se protege. Quanto a mim, pensei que fosse demorar mais a habituar-me à normalidade, mas parece que subestimei o quanto tinha saudades do normal. Foi fácil, rápido. Espero que nenhum de nós tenha de repetir a experiência nunca mais.

 

O meu aniversário

Nunca pensei colocar isto numa lista de melhores momentos do ano porque sempre fui aquela pessoa que detestou fazer anos. Este ano deu-me vontade de os celebrar: fiz um jantar com amigos no próprio dia e uns comes-e-bebes com familiares no dia seguinte, com direito a bolo de Friends. Fez-me sentir tão grata pelas pessoas que tenho comigo que, pela primeira vez na vida, gostei mesmo de fazer anos (e em 2023 vai-se repetir: são os 30, têm de ser celebrados).

 

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E pronto, para mim estas foram as situações que mais se destacaram em 2022. Se quiserem partilhar, estou aqui para escutar as vossas. Resta-me apenas desejar-vos um óptimo 2023, cheio de saúde acima de tudo, porque sem isso não somos nada. Um feliz ano!

11
Mai22

LIVROS: A Little Life, Hanya Yanagihara

Uma vida de sofrimento em 720 páginas, e reflexões sobre a emoção nos homens e sobre psicologia

Vera

Bem... Será difícil conseguir alguma vez descrever adequadamente a experiência de ler este livro. Estou um pouco sem palavras, não por não saber o que dizer, mas por ter tanto para dizer que nem sei como articular tudo isso. Bom, talvez também por não saber o que dizer, já que este é daqueles livros que nos fazem, acima de tudo, sentir - sentir tanto que é impossível passar para palavras o que sentimos. Recostem-se à cadeira ou sofá, que sobre este livro eu tenho muito, tanto a dizer... Esta review vai ser um pouco diferente do costume, porque gostava de reflectir sobre algumas questões pelo meio e não tanto falar apenas da obra em si.

 

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A Little Life é um título bastante adequado à história, já que o livro é, em si, uma pequena vida - em 720 páginas mostra-nos a vida de quatro amigos, centrando-se acima de tudo num deles: Jude, conhecendo-o como o resultado de um passado extremamente traumático. Não me perguntem sobre o que é o livro, não há resposta linear: o livro é sobre tudo, não é sobre nada em específico, é efectivamente uma pequena vida a passar com o tempo e com as páginas. É "só" isso, se não fosse ser muito mais que isso - é um livro tão cru, tão autêntico, tão pesado, tão cheio de dor, tão digno de dar voltas ao estômago. Num comentário que deixei num dos meus updates na leitura deste livro no Goodreads, disse que este livro era um constante "acho que cheguei à pior parte, só pode melhorar a partir daqui..." - sem nunca chegar a melhorar. De alguma forma o livro conseguiu sempre superar aquilo que eu achava que era o pior. Conseguiu piorar o que já era pior, e piorar ainda mais, e piorar mais um pouco. Foi uma história dolorosa. E é bastante gráfico em certas partes, por isso não é um livro que se recomende a toda a gente.

 

But what was happiness but an extravagance, an impossible state to maintain, partly because it was so difficult to articulate? He couldn't remember being a child and being able to define happiness: there was only misery, or fear, and the absence of misery or fear, and the latter state was all he has needed or wanted.

 

O livro está muito bem escrito. Estava com medo por ser tão longo, mas conseguiu cativar-me em quase toda a história; a escrita em si é bastante bonita. Está escrito na terceira pessoa e acho incrível como ainda assim consegue fazer-nos sentir tanto do que as personagens estão a sentir. Mais ainda depois de ter lido uma entrevista de 2015 com a autora que me fez pensar na questão deste livro se centrar num grupo de homens, já que Hanya acha que eles têm um vocabulário emocional mais pequeno que as mulheres, e devo dizer que concordei bastante com o ponto de vista dela. Deixo aqui o excerto do que ela disse sobre esta questão:

 

But I do think that men, almost uniformly, no matter their race or cultural affiliations or religion or sexuality, are equipped with a far more limited emotional toolbox. Not endemically, perhaps — but there’s no society that I know of that encourages men to put words to the sort of feelings — much less encourages their expression of those feelings — that women get to take for granted. Maybe this is changing with younger men, but I sometimes listen to my male friends talk, and can understand that what they’re trying to communicate is fear, or shame, or vulnerability — even as I find it striking that they’re not even able to name those emotions, never mind discuss their specificities; they talk in contours, but not in depth. But in order to name emotions, you have to be taught to name them. (...) In A Little Life, one of the things I most enjoyed exploring is how these men’s friendships, while close by anyone’s definition, are also built upon a mutual desire to not truly know too much. Again, I’m not saying that’s a bad or good thing — one needn’t confess everything to a friend to be known by him — but I do think that a friendship between two women (once again, for better or worse) is yoked by shared confessions.

 

Não tinha pensado tão a fundo neste ponto mas lembro-me de, num momento ou outro a meio da leitura, ter pensado superficialmente no quão bem me estava a ser expressado um sentimento de um ponto de vista de uma personagem masculina (e quão estranho isso era) - sei que pode soar parvo, mas isto que ela descreve eu sinto muito na vida real. E mesmo assim não posso deixar de concordar que simultaneamente me pareceu uma dinâmica muito masculina na perspectiva de que efectivamente estes homens não sabem quase nada sobre a vida uns dos outros. Se pudesse colocava tudo o que ela disse aqui, mas este post já vai suficientemente longo (com tanto ainda por dizer), pelo que deixo o convite para lerem a entrevista na íntegra porque vale a pena.

 

Não vou dizer que o livro é 100% perfeito, achei que se foi tornando um pouco repetitivo e talvez isso tenha surtido um efeito contrário ao que era suposto. Comecei a sentir uma certa dessensibilização: às tantas a história estava a expor-me tanto a situações dolorosas e traumáticas que eu comecei a deixar de sentir tanta empatia pela personagem e pelas suas dores, e comecei a pensar apenas: ok, já percebemos que é mesmo muito mau e que estás a sofrer mesmo muito, e que precisas de fazer mesmo isto vezes sem conta para te sentires melhor. Não me desapareceu a empatia por completo, continuou a ser uma leitura dolorosa e esta dessensibilização meio que ia e vinha; pelo que num momento estava cansada de ler sempre a mesma fórmula de sofrimento, mas no outro já estava encostada a um canto a chorar e a querer deixar este livro no congelador, como o Joey em Friends, porque estava a ser demasiado para aguentar.

 

Outro aspecto positivo é que achei este livro muito bem construído de um ponto de vista psicológico. A pessoa em que Jude se tornou após um passado tão doloroso, tão cheio de trauma, é muito realista, atrevo-me a dizer que é uma das personagens mais bem construídas com base no abuso que viveu. No entanto, achei que houve algum exagero no que toca à vida dele. Se calhar falo de um lugar de imenso privilégio, mas é possível que uma pessoa tenha tanto, tanto azar? Em tudo? Umas coisas seguidas às outras? Sei que sermos criados e educados em determinado ambiente não dá propriamente azo a que existam oportunidades de crescimento em ambientes melhores (apesar de isso até ter acontecido), mas custa-me um pouco acreditar que de sítio para sítio exista sempre um monstro semelhante ao anterior. Da mesma forma, não consegui compreender por vezes a inacção por parte de outras personagens; entendo o quão complicado seja agir e ajudar, mas quando se passa uma vida inteira a ver alguém passar e experienciar pelo mesmo, não é natural que exista eventualmente um ponto de "explosão", um ponto de viragem, um limite da tolerância à frustração? Neste livro pareceu não existir muito disso, o que acho um pouco estranho para pessoas que têm tanto amor e preocupação por alguém.

 

(...) he was worried because to be alive was to worry. Life was scary; it was unknowable. (...) Life would happen to him, and he would have to try to answer it, just like the rest of them. They all (...) sought comfort, something that was theirs alone, something to hold off the terrifying largeness, the impossibility, of the world, of the relentlessness of its minutes, its hours, its days.

 

Agora, infelizmente, tenho de dizer que a minha opinião acerca deste livro decaiu um bocadinho depois de ler a entrevista que referi anteriormente. Uma coisa que me deixou, em certos momentos, frustrada na história foi perceber que uma personagem que precisava tanto de ajuda profissional, nunca a conseguiu. Nunca conseguiu viver dias melhores porque nunca teve a ajuda para isso. E eu achava que esta era uma posição escolhida pela própria personagem - e relevava a minha opinião e compreendia essa escolha, porque nem toda a gente se sente confortável necessariamente para ter o acompanhamento de um psicólogo e/ou psiquiatra, ou nem toda a gente acredita ou espera que isso ajude de facto. E está tudo bem com isso.

 

Mas depois li a entrevista e percebi que esta posição vem da própria autora. E ler algumas das linhas que ela referiu deixou-me um tanto ou quanto confusa e um pouco revoltada com a posição que defende:

 

As for the limits of therapy: I can’t speak to them, only that therapy, like any medical treatment, is finite in its ability to save and correct. I think of psychology the way I think of religion: a school of belief or thought that offers many, many people solace and answers; an invention that defines the way we view our fellow man and how we create social infrastructure; one that has inspired some of our greatest works of art and philosophy. But I don’t believe in it — talk therapy, I should specify — myself. One of the things that makes me most suspicious about the field is its insistence that life is always the answer. Every other medical specialty devoted to the care of the seriously ill recognizes that at some point, the doctor’s job is to help the patient die; that there are points at which death is preferable to life (that doesn’t mean every doctor will help you get there, of course. But almost every doctor of the critically sick understands the patient’s right to refuse treatment, to choose death over life). But psychology, and psychiatry, insists that life is the meaning of life, so to speak; that if one can’t be repaired, one can at least find a way to stay alive, to keep growing older. (...) But I’m not convinced. However: maybe there is in fact a therapist or psychiatrist out there, who thinks that life is, for some people, simply too difficult to keep pursuing; who will give a suicidal patient permission, as it were, to die.

 

Embora concorde que existam casos que possam não ter propriamente nenhuma perspectiva de recuperação - embora também acredite que nesses mesmos casos a terapia pode ter, em si mesma, efeitos paliativos -, equiparar uma ciência validada por estudos rigorosos a uma simples crença e dizer basicamente que psicologia é uma treta já é grave por si só; mas mais grave se tornou a autora proferir as últimas palavras e afirmar que espera que exista algures um terapeuta ou psicólogo que dê permissão a um paciente para se suicidar. Não achem que a minha opinião é enviesada por ser formada na área; tenho falado muito nos últimos tempos com uma amiga do curso sobre certos elementos hipócritas da Psicologia e como muitas vezes tenta empurrar a pessoa numa direcção que nem sempre tem de ser a mais certa, só porque é a mais socialmente aceitável.

 

Mas acho que para argumento basta o facto de Psicologia ser uma ciência, repito, C-I-Ê-N-C-I-A, e não uma doutrina que alguém resolveu inventar simplesmente porque sim. Isto é o mesmo que dizer que a Medicina é um monte de balelas que não resultam com ninguém. Não só não consigo concordar com a visão da autora como acho grave que por detrás de uma história seja isto que ela esteja a tentar passar - que não vale a pena procurar ajuda profissional porque a psicologia é uma crença e não resulta, e se uma pessoa está para lá de remédio e não acredita nisso, então (segundo o que ela diz) mais vale só morrer e pronto. No mínimo, acho que se deve sempre tentar.

 

Apesar de tudo isto, este livro é uma grande obra de arte escrita, foi não um, mas vários socos no estômago e é um livro que vai ficar comigo para sempre. Volto a dizer, não é um livro que se recomende a toda a gente, muitas vezes tive de pousá-lo e parar de ler porque a mágoa estava a tornar-se insuportável. E apesar de achar que a vida da personagem foi um pouco exagerada, não duvido que existam muitas, tantas, demasiadas pessoas como ela pelo mundo... E isso consegue tornar tudo ainda mais sôfrego.

 

Se acharem que aguentam um livro destes, vão com força. A sua leitura vale muito, muito a pena. É um dos livros mais bonitos que já li, da maneira mais triste que já experienciei.

 

(...) all along he had been waiting for some sort of punishment for his arrogance, for thinking he could have what everyone else has, and here--at last--it was. This is what you get, said the voice inside his head. This is what you get for pretending to be someone you know you're not, for thinking you're as good as other people.

 

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Opiniões sobre este livro? E outra coisa: gostam mais deste tipo de publicação, com mais pesquisa e reflexão, ou é melhor limitar-me à minha opinião do que consumi, sem mais? Acho que este post ficou super longo, mas senti que depois de ler a entrevista precisava de falar de outros aspectos que lá foram mencionados.

14
Mar22

Sobre comprar livros

Vera

Hoje apeteceu-me vir aqui divagar sobre um assunto que talvez não seja nada de importante, mas no qual me pus a pensar. Como sempre, este posts para mim não são nada sem as vossas opiniões, por isso conto com vocês! Vou começar com uma pergunta aparentemente simples (porque para mim, não o é assim tanto): o que vos faz comprar um livro? Neste caso, acho que me refiro mais àqueles dos quais não conhecem nada.

 

Eu explico: dei-me conta que só acrescento livros à minha lista para ler se tiver lido reviews de blogs que sigo e me tenham despertado interesse. Essa tornou-se na minha única forma de me envolver no mundo literário, de saber as novidades e de conhecer mesmo os mais antigos. Eu só compro livros quando apanho boas promoções, ou se já forem mais baratos por si só. Por este motivo, nem é uma coisa que eu faça assim tanto - comprar livros -, mas quando compro são sempre livros que já estão na minha lista para ler, essa mesmo que cresceu devido às opiniões que li de outras pessoas.

 

A minha questão com este post todo é: às vezes há livros com bons preços que nunca li, que não conheço, dos quais nunca ouvi falar, cujos autores não conheço, com capas apelativas (sou mesmo a leitora que liga muito às capas) e afins. Mas sinto uma espécie de fear of missing out inverso, em que não tenho medo do que estou a perder ao não comprar esses livros, mas sim do que poderei perder ao comprá-los: dinheiro, tempo, energia... Resumidamente, dei-me conta que tenho um medo enorme de arriscar o dinheiro em livros que, por não conhecer absolutamente nada deles a não ser a sinopse na contracapa, posso vir a não gostar. O livro até pode custar uns míseros 3€, a sinopse pode parecer a coisa mais interessante do mundo, e eu não o vou comprar porque nunca ouvi falar nada dele e tenho um medo gigante de me desiludir.

 

A vossa primeira reacção será, certamente, dizer "mas Vera, não pode acontecer também o contrário e adorares a história?". Nada a contra-argumentar, pode totalmente acontecer. Também sei que até as opiniões que li dos livros que tenho na lista para ler não me garantem, de todo, que vá gostar deles. Portanto podemos concluir que o meu raciocínio não tem grande sentido. Sei disso tudo, e no entanto não me consigo libertar deste medo parvo e irracional - medo esse que, tenho plena consciência, pode estar a fazer-me perder efectivamente grandes obras e autores.

 

Quais são os vossos two cents na matéria? Alguém como eu ou posso sentir-me sozinha nesta luta?

31
Dez21

Coisas boas de 2021

Vera

Este é um exercício que eu gosto sempre de fazer no final de cada ano, sobretudo quando os anos estão tão cheios de coisas más que custa lembrar as boas - e este foi sem dúvida alguma um desses anos. 2021 foi um dos piores anos da minha vida, sobretudo no que diz respeito à minha saúde mental. Por isso, hoje venho contrariar o negativismo e recordar as coisas boas deste ano.

 

Terminei o Mestrado e deixei a universidade

Quem me segue há algum tempo já sabe que no último ano de Mestrado percebi que não queria seguir aquela área profissionalmente. Hoje, confesso, nem sei porque é que o terminei, mas o que é certo é que já me estava a dar mais dores de cabeça do que qualquer outra coisa e eu já estava cansada de ser estudante universitária, por isso foi bom ter finalmente terminado o curso e ter podido virar essa página sem olhar mais para trás.

 

Vi os Capitão Fausto ao vivo pela primeira vez

Quem me conhece sabe que são uma das minhas bandas favoritas de sempre, e eu, como pessoa do interior, estava há anos à espera de poder vê-los ao vivo por cá. Para as pessoas de Lisboa, concertos de Capitão Fausto há "todos os dias", para mim só houve aquele e possivelmente não haverão mais por muito tempo daqui em diante. Surgiu esta oportunidade e eu tive de aproveitá-la. Foi uma noite maravilhosa que recordo até hoje com enorme felicidade. Resta esperar que possam cá voltar um dia.

 

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Fiz uma formação virada para Marketing

Em Março fiz uma formação do IEFP que, apesar de não se centrar apenas no Marketing, incidia maioritariamente nessa área. Durou três meses e na altura até me fez dar um passo atrás na decisão de mudar de área, porque fiquei overwhelmed com a quantidade de coisas que percebi que tinha ainda para aprender. Mas foi uma experiência que adorei; o formador que estava encarregue de todas as unidades ligadas ao Marketing era 5 estrelas, daqueles que se nota que gostam realmente de ensinar e de fazer a diferença no formando. Foi uma coisa que reforçou ainda mais a ideia de que me vejo muito a trabalhar nesta área e a fazer disto vida.

 

Tempo em família

Se antes do covid os convívios com a família já eram relativamente poucos, depois desse maldito vírus passaram a ser ainda menos. Embora não seja numa quantidade propriamente significativa, este ano deu para matar algumas saudades desses tempos e ter um ou outro momento de reunião familiar. Voltar a poder ver e estar com familiares em grande número foi muito bom. Felizmente, as vacinas vieram dar um pouco mais de liberdade para isso, pelo menos nas alturas menos más da pandemia (já que o Natal voltou a ser passado em casa, a dois).

 

Fiz um ano de relação

Bom, na realidade a coisa boa é a pessoa e a relação em si; pouco interessa o tempo, até porque o objectivo é que sejam muitos mais anos. Este ano foi mesmo muito complicado para mim e às vezes pergunto-me como teria sido se não estivesse nesta relação e não tivesse o apoio constante que tive por parte dele. Não tenho respostas certas porque não tenho nenhuma bola de cristal, mas acho genuinamente que teria sido ainda pior. Agradeço todos os dias por ter este ser maravilhoso na minha vida. Só espero que em 2022 possa estar do meu lado em melhores tempos.

 

Arranjei emprego

Foi preciso passar a primeira metade do ano para ter desenvolvimentos nesta área da minha vida. Da primeira vez, percebi desde logo que não ia encaixar naquele sítio e tomei a decisão consciente de denunciar o contrato. Da segunda vez, tive uma experiência horrível num sítio horrível, com uma equipa horrível e uma chefia horrível. Como diz o ditado, à terceira é de vez e estou até ao momento num novo emprego que estou a adorar. Apesar de ter passado pouco tempo, tenho quase 100% de certezas que ainda vou ficar ali algum tempo e que me saiu a sorte grande. Apesar de ser part-time e não ser a minha profissão de sonho, fui parar a um sítio com condições razoavelmente boas de trabalho para o que se pode pedir hoje em dia, com uma equipa e chefia extremamente impecáveis. Até ver, estou a adorar e acho que na fase de vida em que me encontro é o emprego ideal para mim.

 

Tenho alguns objectivos a curto e médio prazo para o ano que se avizinha, mas pela primeira vez apetece-me viver um dia de cada vez ou, no máximo, uma semana ou mês de cada vez e ver o que acontece. Tenho essas tarefas definidas, coisas que quero fazer, mas ao mesmo tempo sinto que não vale a pena fazer planos. Pela primeira vez não vou escrever um post de objectivos para o novo ano. Para ser sincera a maioria desses posts acabam a não ser assim tão cumpridos, pelo que não vejo propósito.

 

Sinto que estou a começar uma nova etapa na minha vida. Quero saboreá-la e deixar todas as amarguras de 2021 para trás. Desta vez, vou deixar-me levar pela maré.

 

Desejo a todos, do fundo do coração, um ano feliz e repleto de saúde.

2022, sê bom, por favor!

30
Jan21

Sobre ler (ou não) histórias "problemáticas"

Vera

As aspas do título estão lá apenas pela flexibilidade da palavra; aquilo que eu considero problemático pode não o ser para outra pessoa. Achei por bem vir reflectir um pouco sobre este assunto.

 

Há muitos, muitos anos atrás li o Lolita do Vladimir Nabokov, um dos mais famosos clássicos da literatura e, apesar de neste momento não me lembrar mais de nada do livro (tirando, obviamente, o seu ponto central), lembro-me que gostei bastante dele. Li-o em 2012, portanto eu tinha 18/19 anos, e não vi qualquer problema em lê-lo. Hoje em dia a história é diferente: até gostava de o reler, mas tenho algum receio de o fazer porque tenho uma consciência muito maior do problema que existe no facto de a história ser uma história de pedofilia.

 

No entanto, o que origina este post nem sequer se relaciona com este livro - sendo que já o li, também já não é um problema - e sim com o facto de ter em mim um conflito interno muito grande associado ao facto de querer ler o Call Me By Your Name. Este conflito interno é muito parvo por si só se considerarmos que eu já vi o filme, mas vamos ignorar essa parte. Foi, na verdade, precisamente por ter visto o filme que sinto algum conflito em querer ler o livro. Tenho bastante curiosidade de o fazer, mas uma vez mais, para mim é outra clara história de pedofilia. Cheguei a pesquisar este assunto e vários argumentos são utilizados para contestar: 1) O facto de ser o Elio a iniciar a relação e não o Oliver; 2) O facto de a idade de consentimento em Itália ser de 14 anos, e o Elio já ter 17. Para o segundo não tenho resposta fundamentada, mas serve-me de pouco porque não acho 14 anos uma idade com maturidade suficiente para tal (e isto é apenas uma opinião pessoal). Já para o primeiro tenho a dizer que não me diz nada, porque isso não impede que o Oliver tenha deixado que o relacionamento continuasse.

 

E vocês podem dizer "e qual é o problema? É uma história de ficção!", e têm toda a razão mas, por algum motivo, é algo que me faz sentir um pouco desconfortável. Por isso, queria criar aqui um debate e perguntar-vos qual a vossa opinião sobre este assunto. Se também hesitam um pouco em ler livros com histórias mais problemáticas, se o fazem sem problemas, se se recusam em fazê-lo... Digam-me de vossa justiça!, que eu cá vou continuar com o meu conflito interno.

08
Jan21

Positividade Tóxica

Vera

Felizmente, há conceitos que vão surgindo com o tempo que vêm dar uma nova luz a comportamentos e atitudes menos correctos sobre os quais nunca pensámos antes, e positividade tóxica é um deles.

 

Há uns dias vi um tweet que dizia algo do género "em 2020 aprendi que trauma só serve para traumatizar, não há lição de vida para tirar" e isto fez-me pensar, em primeiro lugar, porque me identifiquei bastante com ele. Há dois/três anos passei por um trauma muito grande na minha vida que continua a afectar-me, de algumas formas, nos dias de hoje. Houve uma altura em que cheguei a invejar, de certa forma, pessoas que tinham passado por experiências mais ou menos semelhantes à minha e as viam como uma bênção, porque aprenderam algo dali. Cheguei a pensar "o que raio há de errado comigo para passar por algo tão grande e não conseguir retirar coisas boas daí?". E a resposta é: nada. Não há nada de errado comigo.

 

Não querendo de todo retirar mérito a quem consegue tornar um grande mal em algum bem, a verdade é que a pressão que sentimos para isso é ridícula. Parece que temos de nos sentir agradecidos por termos passado por algo horrível, o que não faz sentido nenhum. Continuo até hoje a desejar nunca ter passado por tal coisa, não importa os ensinamentos que me trouxe. Pensar desta forma implica desvalorizar totalmente a experiência da pessoa traumatizada e mandar todo o seu sofrimento às favas para dar lugar a um positivismo que não tem e nem sempre deve existir. Uma coisa má é uma coisa má.

 

Posso ainda ilustrar isto com uma mensagem passada pela Clara Não há umas semanas: a pandemia não foi uma coisa boa. A pandemia pode ter trazido consequências positivas a algumas pessoas, mas isso não a torna numa coisa boa.

 

Temos de parar de achar que tudo na vida tem de ter algo de positivo por trás, e que até as más experiências poderão ser boas. Não, más experiências são só isso mesmo: más experiências. E por mais lições que possam, ou não, dar-nos, não deixam de ser más experiências e, à partida, coisas que desejaríamos nunca ter vivido. Precisamos de parar de diminuir experiências desagradáveis e precisamos de parar de fazer as vítimas sentirem que não podem sofrer, ou que o seu sofrimento não tem valor porque vai necessariamente dar lugar a algo de bom. A vida não funciona assim, e perdoem-me a linguagem, mas às vezes a merda é só mesmo merda.

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